SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 21 de maio de 2014

PALAVRAS SILENCIOSAS – 616


Rangel Alves da Costa*


“No horizonte um véu enegrecido...”.
“Sombras avançam...”.
“Recobrindo a cor...”.
“Desde muito que o sol sumiu...”.
“Nunca mais a luz...”.
“Nunca mais manhã...”.
“Sequer um sorriso da natureza...”.
“Sequer um leque de brisa avançando...”.
“E trazendo um esperançoso perfume...”.
“Os varais solitários pranteiam a vida...”.
“As folhas secas partiram em revoada...”.
“Borboletas transformadas em cinzas...”.
“Olhos que choram sem lenço...”.
“Corpos que padecem sem cura...”.
“E ao longe os sons ruidosos ribombam...”.
“Raios lancinantes cortando os céus...”.
“Faíscas medonhas tracejando acima...”.
“Roucos trovões ensurdecendo o instante...”.
“Os monstros despertam assim...”.
“Do silêncio à algazarra sem sim...”.
“Montanhas que se reviram...”.
“Penhascos que se despedaçam...”.
“Mares que naufragam famintos...”.
“Turbilhões na dança da morte...”.
“E as feras abrindo as bocas...”.
“Abocanhando o que resta de tempo...”.
“Para depois vomitar na face do medo...”.
“Que desperta violento e feroz...”.
“E sai devastando o que encontra adiante...”.
“E eis um mundo perdido em sombras...”.
“Fantasmas que vagueiam procurando grotões...”.
“Rugidos esbravejam o som da maldade...”.
“As velas se apagam sem ter oração...”.
“Não há mais tempo para pedir perdão...”.
“Senão para a agonia e a desolação...”.
“Angústia, angústia...”.
“Chama teu sofrimento para a morte certa...”.
“Nada mais resta que um resto de nada...”.
“Apenas o sopro sufocado no grito...”.
“E asas negras que voam ao redor...”.
“Procurando janelas para recolher suas vítimas...”.
“E beber do sangue que já não resta do corpo...”.
“Pois nada resta do resto que resta...”.
“Senão o relógio com seu último segundo...”.
“E alguém que ainda ousa em abrir a porta...”.
“E perguntar quem está adiante...”.
“E perguntar se querem sua alma...”.
“Ou se desejam um pouco de mel...”.
“Que um anjo lhe trouxe ao cair do céu...”.
“Chegado com a missão de morrer com o mundo...”.
“Ou salvá-lo com a luz da janela...”.
“Que o homem esqueceu de abrir...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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