Rangel Alves da
Costa*
Dessa vez
a meteorologia não falhou. Prometeu que choveria a partir desta segunda-feira
em Aracaju e diversas regiões sergipanas e a chuvarada veio mesmo. Mas são
chuvas inconstantes, ora mais fortes outras vezes apenas chuviscos.
Olhando
mais adiante, na direção da barra, logo se percebe o tempo fechado, pesado,
tomado de nuvens prenhes, o que sinaliza a continuidade da molhação. Como dizem
no interior, a tela está toda pintada de chuva e só falta virar o quadro para a
água se derramar de vez, sem medo de cair.
Ao menos
continua assim neste começo de terça-feira. Levantei após as duas da madrugada
e encontrei torneiras abertas e nuvens se derramando. Chuvarada de vai e vem,
de chegar mais forte e depois recuar, porém constante.
Esperava-se
uma chuva mais forte e mais intensa, daquelas que fecham portas e tornam as
ruas desertas. Também daquelas que não dá vontade nenhuma de levantar e não
deixa ninguém com vontade de enfrentar seu açoite.
Não é,
pois, uma chuva de trovoada, com trovões e relâmpagos, mas de vez em quando
formando poças e correndo pelo asfalto. Certamente será mais um daqueles dias
de guarda-chuvas, pessoas apressadas pelas ruas, panos encobrindo cabeças por
medo do resfriamento.
De
qualquer forma, qualquer chuva que caia chega sempre como alento e esperança.
Basta chover um pouquinho e tudo parece se transformar, com ruas sendo lavadas,
o clima modificado e outras cores surgindo na natureza. No mundo de asfalto e
pedra até que não faz muita diferença, mas diferentemente ocorre perante a
terra e o fundo do tanque.
E desde
ontem que tenho notícias de águas caindo também pela região sergipana, tão
necessitada de qualquer lembrança de nuvem. Não só para alimentar os tanques,
açudes e barragens, como para molhar a terra e prepará-la para qualquer
plantio.
Segundo a
meteorologia, as precipitações ocorrerão durante a semana inteira. Não poderia
haver notícia melhor, mais alentadora, principalmente para os sertanejos. O sol
estava um exagero de vaidade, querendo prevalecer forte demais quase o dia
inteiro. Precisava se esconder um tiquinho para descansar.
Tudo
estava demasiadamente azul, acinzentado, seco. Ou, por vezes, exageradamente
iluminado até o cair da noite. Quase não havia aquele lusco-fusco, aquele singelo
ritual de passagem aonde a tarde vai chamando a noite por meio de cores
vermelho-amareladas no horizonte. Ocaso, poente, fim de tarde, entardecer, um
verdadeiro ritual de despedida e chegada.
Não que eu
precise de chuva para ter molhada a horta do meu quintal. Só tenho cimento e ferro. Mas o calor está
insuportável, tudo abafado demais, num desassossego de doer na alma. Basta um
passo e o suor surge na face, toma a roupa, causa uma inquietação danada.
Penso
também lá nas terras de onde vim, penso no meu querido sertão. Lá sim, precisa
de pingo d’água, de qualquer gota que diminua o sofrimento da estiagem que se
mantém como constante ameaça e que tanto maltrata meu conterrâneo.
Mas quando
chove aqui me alimento de tudo. Com o tempo fechado, escurecido, as águas
caindo e meu âmago bebendo de cada gota. Saudades, relembranças, tristezas,
alegrias, reencontros, tudo vem junto com a chuva. Mesmo a chuva fininha me
traz um respingo de saudade.
Por aqui,
no centro da capital sergipana, a manhã chegou, mas tudo ainda continua
adormecido, com ar sonolento. O tempo fechado, molhado, espalha o silêncio e a
solidão. E sei que muitos olhos não sabem se avistam vidraças embaçadas ou as
próprias lágrimas.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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