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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 22 de novembro de 2014

O MEU E OUTROS PRESÉPIOS


Rangel Alves da Costa*


Meu presépio tão pequenino e tão singelo já está arrumado na antessala do meu escritório, que é também parte de minha residência. É bem diferente daquele que eu gostaria de ter, pois desses comercializados em vésperas natalinas. Mas já faz muito tempo que o adquiri e nunca mais avistei igual por onde tenho andado.
Consiste numa casinha tipo manjedoura, trabalhada em madeira e com uma espécie de capim seco colado por cima, um pequenino e rústico berço, além das imagens do Menino Jesus, Maria, José, os três reis magos, um aldeão e alguns animais, dentre eles um boi, uma ovelha e um burro. Apenas isto, mas encantador e cativante como um desses grandes presépios de igreja.
Talvez seja a singeleza, ou a simplicidade e rusticidade do meu presépio, que o torna tão belo no seu jeito simples de ser. Apenas pequenos objetos dispostos num vidro por cima de um pé antigo de máquina de costurar, mas que no todo expressam grandiosamente toda a simbologia do natal, do nascimento do menino, dos visitantes ilustres e animais, bem como a presença da estrela anunciadora.
Sim, existe também uma estrela por cima da casinha/manjedoura, bonita, piscando após o anoitecer, mas que ali foi colocada posteriormente para dar maior significação ao cenário. E ladeando o vidro onde estão dispostos os objetos há também uma pisca-pisca que ao ser acionado provoca um efeito encantador na ambientação, principalmente quando a sala está escurecida.
Trabalho e escrevo na outra sala, logo ao lado, e de vez em quando levanto para apreciar as luzes e a estrela piscando ao redor daquela caracterização do local de nascimento do pequenino tão grande entre nós. E de vez em quando me atenho um pouco mais para viajar no tempo e relembrar outros presépios, outras vivências natalinas nas terras sertanejas de onde vim. Tudo numa nostalgia mista de feliz relembrança e de entristecimento e saudade.
A primeira cena que me vem à mente é o presépio de Dona Emeliana, minha avó paterna. Todo final ano, nos dias finais de novembro, ela deixava um espaço vazio num canto da casa para ali dispor seu imenso presépio. Uma mesa era colocada e aos poucos a madeira ia sendo tomada pelos muitos objetos que iam sendo providenciados.
Depois de tudo devidamente colocado no seu lugar, quase a sala inteira era envolvida pelo suntuoso cenário. E era uma caracterização completa, envolvendo não só a retratação bíblica do nascimento como de outras situações sertanejas. A manjedoura, os personagens, animais e muito mais. Além do cenário conhecido, o presépio ganhava ainda casinhas humildes feitas de papelão, mandacarus, xiquexiques, pequenas cactáceas, capim do mato, garranchos e pedras.
Tudo ali representava o nascimento matuto do Menino Jesus como se o local de nascimento não fosse na Belém bíblica e sim num empobrecido lugarejo sertanejo. Com efeito, a região histórica, árida, deserta, com paisagem acinzentada, não diverge muito de qualquer região sertaneja. A humildade dos pais do menino igualmente pode ser comparada à vida pacata do homem da terra.
E o pequenino com a mesma feição daquelas criancinhas que nascem tão belas pelos sertões adentro. E ao crescer o mesmo passo de sofrimento, a dor, a incompreensão e o calvário. Mas a redenção pela força, pela fé. Um menino na sua manjedoura e tantos outros meninos nas suas camas de capim. Um menino sendo anunciado pela estrela e outros meninos anunciados pelo canto do galo. Um menino recebendo a visita dos reis magos e outros pequeninos recebendo a visita daquele menino que se fez homem como filho de Deus.
Outros presépios interioranos ainda me chegam à mente, à recordação. Mas também os relembro como presenças vivas nas taperas distantes com seus Josés e Marias felizes pelo nascimento dos seus Jesus sertanejos. E que dádiva natalícia!


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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