Rangel Alves da Costa*
Meu presépio tão pequenino e tão singelo já
está arrumado na antessala do meu escritório, que é também parte de minha
residência. É bem diferente daquele que eu gostaria de ter, pois desses comercializados
em vésperas natalinas. Mas já faz muito tempo que o adquiri e nunca mais
avistei igual por onde tenho andado.
Consiste numa casinha tipo manjedoura,
trabalhada em madeira e com uma espécie de capim seco colado por cima, um
pequenino e rústico berço, além das imagens do Menino Jesus, Maria, José, os
três reis magos, um aldeão e alguns animais, dentre eles um boi, uma ovelha e
um burro. Apenas isto, mas encantador e cativante como um desses grandes
presépios de igreja.
Talvez seja a singeleza, ou a simplicidade e
rusticidade do meu presépio, que o torna tão belo no seu jeito simples de ser.
Apenas pequenos objetos dispostos num vidro por cima de um pé antigo de máquina
de costurar, mas que no todo expressam grandiosamente toda a simbologia do
natal, do nascimento do menino, dos visitantes ilustres e animais, bem como a
presença da estrela anunciadora.
Sim, existe também uma estrela por cima da
casinha/manjedoura, bonita, piscando após o anoitecer, mas que ali foi colocada
posteriormente para dar maior significação ao cenário. E ladeando o vidro onde
estão dispostos os objetos há também uma pisca-pisca que ao ser acionado
provoca um efeito encantador na ambientação, principalmente quando a sala está
escurecida.
Trabalho e escrevo na outra sala, logo ao
lado, e de vez em quando levanto para apreciar as luzes e a estrela piscando ao
redor daquela caracterização do local de nascimento do pequenino tão grande
entre nós. E de vez em quando me atenho um pouco mais para viajar no tempo e
relembrar outros presépios, outras vivências natalinas nas terras sertanejas de
onde vim. Tudo numa nostalgia mista de feliz relembrança e de entristecimento e
saudade.
A primeira cena que me vem à mente é o
presépio de Dona Emeliana, minha avó paterna. Todo final ano, nos dias finais
de novembro, ela deixava um espaço vazio num canto da casa para ali dispor seu
imenso presépio. Uma mesa era colocada e aos poucos a madeira ia sendo tomada
pelos muitos objetos que iam sendo providenciados.
Depois de tudo devidamente colocado no seu
lugar, quase a sala inteira era envolvida pelo suntuoso cenário. E era uma
caracterização completa, envolvendo não só a retratação bíblica do nascimento
como de outras situações sertanejas. A manjedoura, os personagens, animais e
muito mais. Além do cenário conhecido, o presépio ganhava ainda casinhas
humildes feitas de papelão, mandacarus, xiquexiques, pequenas cactáceas, capim
do mato, garranchos e pedras.
Tudo ali representava o nascimento matuto do
Menino Jesus como se o local de nascimento não fosse na Belém bíblica e sim num
empobrecido lugarejo sertanejo. Com efeito, a região histórica, árida, deserta,
com paisagem acinzentada, não diverge muito de qualquer região sertaneja. A
humildade dos pais do menino igualmente pode ser comparada à vida pacata do
homem da terra.
E o pequenino com a mesma feição daquelas
criancinhas que nascem tão belas pelos sertões adentro. E ao crescer o mesmo
passo de sofrimento, a dor, a incompreensão e o calvário. Mas a redenção pela
força, pela fé. Um menino na sua manjedoura e tantos outros meninos nas suas
camas de capim. Um menino sendo anunciado pela estrela e outros meninos
anunciados pelo canto do galo. Um menino recebendo a visita dos reis magos e
outros pequeninos recebendo a visita daquele menino que se fez homem como filho
de Deus.
Outros presépios interioranos ainda me chegam
à mente, à recordação. Mas também os relembro como presenças vivas nas taperas
distantes com seus Josés e Marias felizes pelo nascimento dos seus Jesus
sertanejos. E que dádiva natalícia!
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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