Rangel Alves da Costa*
Ninguém pode negar a importância das novas
tecnologias na realidade presente. Tudo está muito próximo, a comunicação é
instantânea, as respostas imediatas, não há mais ilha de convivência humana. De
qualquer ponto do mundo será possível manter comunicação instantânea com as
paragens mais remotas. Assim a vida sem esconderijos.
Contudo, as tecnologias, os modismos e as
facilidades do mundo moderno, acabam provocando distanciamento do ser humano
perante sua realidade e desinteresse pelos seus afazeres mais simples e
cativantes. O novo e fácil e rápido vai
gerando um alheamento àquilo que costumava fazer com esmero e carinho, eis que
agora tudo num simples teclado, num envio e numa resposta. Também quase não há
mais tempo pra se pensar nem escolher, pois tudo requer rapidez.
Basta acessar a internet e lá estarão as
notícias do mundo inteiro, em tempo real. As cartas, bilhetes, comunicados ou
informações pessoais podem ser enviados pelo computador. As conversas rápidas
se dão através das redes sociais. Ouvir a voz e avistar a pessoa também não é
problema, pois tudo ali diante da telinha. As presenças se tornaram virtuais.
Nada, pois, se distancia ou pode deixar de ser alcançado.
Mas nem todos se acostumam com os novos
mecanismos. Não são poucos os que ainda relutam em aceitar e utilizar os novos
mecanismos. Conheço gente que continua teclando seus textos na velha máquina de
escrever ou mesmo escrevendo a punho. Afirma que perde a criatividade diante de
um computador. E justifica a continuidade no velho hábito dizendo ainda que a
escrita criativa deve ser algo tão manual e artesanal como se moldada na
madeira ou no barro, pois perde todo o sentido se dependente de uma máquina que
de repente pode apagar tudo.
E também aqueles que se negam a ler notícias
através de sites de jornais. No mesmo sentido os que rejeitam a leitura de
qualquer livro via computador. Tanto com relação ao noticiário quanto aos
livros, a justificativa é sempre no sentido de não provocarem a mesma sensação
que tocar no papel, folhear, passar folha por folha ou página por página. Nada
igual a receber um jornal na porta de casa ou adquiri-lo na banca, nada
parecido como retirar o livro da estante, deitar numa rede e entregar-se à
leitura.
Segundo afirmam os adeptos da leitura no
papel, não faz nenhum sentido tomar café pela manhã tendo à frente uma tela de
computador. O que seduz e encanta, desperta interesse e curiosidade, é recolher
o jornal jogado pelas grades da casa e, como num ritual de todo amanhecer,
levá-lo até a mesa e ali folheá-lo avidamente, visualizando manchetes e adentrado
no noticiário mais interessante ou convidativo. E as letras vão sendo sorvidas,
engolidas com café e pão, no sabor do queijo e do leite.
Com efeito, as palavras impressas cativam e
aproximam o leitor. São como grãos espalhados que vão sendo juntados para a
safra daquele momento. Muitos dizem da magia em folhear o jornal, avistar as
chamadas principais, dialogar com os fatos, enraivecer-se com uns e até sorrir
com tantos outros. As informações também recebem tratamento diferenciado. É
como se o papel fosse a prova, para acreditar ou não. E não raro que após a
olhada na primeira página, o leitor se apresse para chegar aos articulistas ou
colunistas preferidos, já sabendo de antemão o que deseja encontrar.
E não é muito diferente com relação aos
livros. Verdade que as histórias, tramas e enredos não mudam se lidos numa tela
ou folheando página a página. Mas o encantamento sim, o diálogo com o texto
sim, pois se apalpa o papel como se estivesse interagindo com a narrativa, envereda-se
por aqueles caminhos como se pretendesse ajudar um personagem, com ele manter
cumplicidade, fazer parte daquele emaranhado de situações. Há, na leitura
manual verdadeira simbiose do leitor com a história. Sem falar na possibilidade
de fechar o livro por alguns instantes e depois retornar ao mesmo com igual fervor
e expectativa.
Mas as novas tecnologias não trouxeram
consequências apenas na leitura de jornais e livros. As cartas pessoais,
amorosas ou de amizades, já não são mais anunciadas pelos carteiros como
noutros tempos. Tornou-se raridade encontrar alguém de feição rubra diante de
uma correspondência. E ao abri-la, com o coração palpitante, deixar que os
olhos e a feição reflitam o que ali se derrama. A cartinha tremula nas mãos, os
olhos gotejam por cima da folha, as letras tortas se amiúdam ainda mais ao
dizer: A saudade é demais, em breve retornarei. Um beijo e um abraço de quem te
ama!
E assim também com os cartões natalinos, os
telegramas, as mensagens costumeiramente enviadas via correios. Carteiro hoje
em só entrega impressos, extratos e nada mais. Também ninguém se põe à janela
ao entardecer esperando que o velho amigo anuncie a chegada da cartinha tão
esperada. Assim não existe mais porque tudo através do celular, do computador,
das redes sociais. E não sei se brevemente a presença vai ser necessária nos
relacionamentos humanos, eis que tudo virtual.
Seja como for, nada substituirá o prazer em
rabiscar numa folha ou colocar o papel na velha máquina para dedilhar a prosa,
o verso, a vida. E também deixar a folha seca da amendoeira marcando a página
onde o oráculo anuncia como será o amanhã.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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