Rangel Alves da Costa*
Mesmo os mais descrentes na existência divina
e do seu poder sobre o homem, certamente haverão de concordar que a existência
humana está submetida e condicionada a forças superiores. Do contrário, seria
acreditar que tudo acontece ao acaso ou como consequência da própria ação
humana, eis que é o homem o senhor e dono de seu destino e se mostra suficientemente
responsável na sua ação terrena. Mas então haveria de se indagar: Por que este
poderoso homem se mostra impotente diante, por exemplo, de uma chuva mais
forte?
Não há que duvidar do poder do homem. Foi
criado com o dom da superioridade sobre os demais seres terrenos, recebeu o dom
da razão e da inteligência para sempre progredir na sua existência, possui o
discernimento na ação e a liberdade para agir. Mas como dito, tudo lhe confiado
pelo seu criador, pois não surgiu ao acaso nem é fruto de laboratório da
natureza que cruzando espécies fez surgir exatamente aquele que é imagem e
semelhança de quem lhe deu sopro.
Até que poderia ser frágil e quebradiço, pois
moldado no barro para ganhar forma e vida. Mas se tornou forte e poderoso. E
depois do sopro, além da razão, do saber e da força, todo o mundo a seu dispor.
Para agir, para trabalhar, para lutar, conquistar, transformar, limitado apenas
pelos compromissos assumidos perante o seu criador. E obrigações de ordem
moral, espiritual e de convívio perante os seres da mesma e de outras espécies.
Mas compromissos desde muito descumpridos e que, por isso mesmo, foram
provocando no homem a ilusão do demasiado poder que verdadeiramente não possui.
Foi essa utopia de mando sobre tudo e ilusão
de reinado absoluto sobre a terra que acabaram distanciando o homem de seu
criador e agindo como se de nenhuma valia fossem as forças divinas ou
superiores. É como se a vida, o mundo e tudo nele existente fosse obra do próprio
ser humano e a este cabendo moldá-los ao seu modo. E para tal conta com
inteligência suficiente para criar e transformar, para fazer e desfazer, sem
que disto tenha de prestar contas a quem quer que seja. Ledo engano.
Como afirmado, ao homem foi dado a razão e a
sabedoria. E assim foi feito para que se mostrasse capaz de suprir suas
necessidades sobre a terra. Por isso mesmo que aprendeu a caçar, a pescar, a se
proteger, bem como todas as conquistas desde os tempos mais primitivos. E neste
passo incluem-se o advento das tecnologias mais modernas, os avanços
científicos, as pesquisas fundamentais para a vida humana. Há de se observar,
contudo, que tudo isso já havia sido previsto desde a sua criação.
Inegável que o homem alcançou um patamar
primoroso de conhecimento. O advento das novas tecnologias faz até supor acerca
do seu poder ilimitado para fazer surgir mecanismos que jamais poderiam ser
imaginados como possíveis. Ontem o rádio, a máquina de escrever, e depois o
computador e todo um aparato tecnológico, e ainda depois a nanotecnologia, a
internet, os aplicativos e uma infinidade de proezas de ponta. E amanhã
certamente surgirão tecnologias que tornarão ineficazes e obsoletos os
equipamentos mais modernos.
É a inteligência humana a responsável por toda
essa transformação. Sempre haverá um homem manejando a ciência, produzindo
pesquisa, fazendo surgir os inventos. De tal modo é o seu poder de transformar
e inovar que logo se imaginaria possuir realmente o poder sobre a vida e o
mundo. Contudo, é neste passo que surge outra necessária indagação: Por que,
por mais que utilize todas as potencialidades científicas, o homem não
conseguiu encontrar soluções para problemas antigos que afligem a humanidade?
Antes de responder, urge que se retome o
questionamento proposto no início acerca do imenso poder do homem e a sua ineficácia
diante de um simples acontecimento natural como uma tempestade. E logo se
visualiza situações onde a inteligência humana se vê totalmente inoperante diante
das mudanças climáticas, da ação das forças da natureza. E logicamente seria de
se esperar que o senhor da ciência e do saber desde muito já teria encontrado
soluções para combater tais problemas. Mas não, continua sendo desafiado a
mostrar seu real poder.
A verdade é que mesmo o conhecimento humano
tendo alcançado um nível tão elevado e mais tarde ainda possa superar suas
conquistas, continuará com poder de ação e interferência apenas limitado. E
muitos são os exemplos onde a ciência jamais proporcionou soluções eficazes
para problemas antigos. O homem foi à lua, conquista o espaço, mas não consegue
produzir remédios para determinadas enfermidades. De vez em quando surtos e
epidemias surgem para mostrar o quanto a vida continua desprotegida. O ebola é
o caso mais recente de fracasso da ciência no combate às situações previsíveis.
Como, então, explicar as situações que fogem
ao poder do homem? Evidencia-se, pois, a existência de uma força superior,
muito além da humana, que serve para delimitar o que é de Deus e o que é do
homem, o poder de um e do outro. Conclui-se também que ao homem foi permitido
conquistar, mas que jamais se arvorasse de ser dono e possuidor da vida. E por
isso mesmo continuará sendo desafiado a respeitar os limites estabelecidos pelo
seu criador.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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