*Rangel Alves da
Costa
Cada
prefeito eleito, acaso não tenha sido apoiado pelo atual gestor, dificilmente
não encontrará uma prefeitura completamente desconsertada, desmantelada mesmo.
É que se tornou uma prática tão comum quanto insidiosa o desmantelamento não só
do aparato administrativo como das contas públicas. É o chamado desmanche
administrativo com a derrota no pleito e o fim do mandato. Entrega-se somente o
prédio, quando muito.
Após o
pleito e a consequente derrota, logo se procura algum alvo para lançar as iras,
os ódios, os aborrecimentos. Como não pode se rebelar naquele momento contra o
prefeito eleito nem contra os seus eleitores nem os eleitores do outro, então
articula atacar o próprio cerne da administração municipal: a prefeitura e seu
contexto. E começa a sufocar a gestão como se pretendesse esvaziar de vez todo
tipo de ação administrativa. Não faz mais nada daí em diante, a não ser
providenciar para que ele próprio, o prefeito, não saia no prejuízo. Ele e o
seu grupo.
É como se
o mundo acabasse após uma eleição não vencida por um apoiado pelo prefeito. Só
falta mandar derrubar e jogar sal por cima do prédio da prefeitura. Lança mão
da tesoura, do facão, do machado, e vai cortando tudo que seja de direito ao
município e à população. Com o ódio fermentado, sempre imagina que agindo assim
está dando a resposta aos que não lhe apoiaram ou traíram sua confiança. Então
todos, indistintamente (menos logicamente ele próprio e seu grupo), começam a
sofrer danosas consequências.
Ao colocar
em ação uma vil e mesquinha política de terra arrasada, o gestor vai de
encontro ao próprio patrimônio municipal. Na geopolítica, a tática da terra
arrasada significa uma retirada onde se deixa para trás apenas escombros, de
modo que o inimigo encontre somente restos e frangalhos. Consiste basicamente
na retirada civil e militar do território em conflito, destruindo tudo o que
existe para que a tropa inimiga que adentra o território encontre um ambiente
hostil.
Numa
gestão municipal que se finda, a política de terra arrasada vai colocando fim a
quase tudo existente. Suspendem-se contratos, deixa-se de pagar fornecedores,
interrompem-se obras já iniciadas e engavetam-se aquelas programadas, corta-se
a prestação de serviços essenciais, enfim, provoca-se uma paralisia geral na
administração. Um fato de graves consequências é a “limpeza” no quadro de
pessoal, pois dezenas ou centenas de contratados são forçadas a abandonar os
seus postos de trabalho.
E esta é
uma realidade que agora se prolifera nas administrações municipais onde os
atuais gestores não lograram êxito no recente pleito. As medidas tomadas,
sempre por iniciativa pessoal e intimista, acabam provocando um verdadeiro caos
entre a população, principalmente quando, de hora pra outra uma leva de gente
se vê desempregada e sem perspectiva alguma. E as ações odiosas acabam afetando
até mesmo crianças e demais estudantes, pois os servidores contratados para
prestar serviços nas escolas são logo mandados embora.
A
derrocada eleitoral vai provocando vítimas de todo lado, principalmente
naqueles menos favorecidos e que tanto necessitam de um empreguinho para
sobreviver, mas que são escolhidos como bodes expiatórios, tidos como culpados
pelos acontecidos. Contudo, o discurso do gestor é sempre outro: Necessidade de
enxugar a folha de pagamento, conter despesas e gastos, equilibrar as contas,
produzir saldo nos cofres públicos para a próxima gestão. E nunca se crê em
tais justificativas pelo fato da hora: por que somente ao apagar das luzes há
tanta preocupação com as contas e a saúde financeira municipal?
É sempre
tudo conversa pra boi dormir e o gestor tomar conta sozinho do pasto. Quando o
eleito contrata auditoria e começa a remexer por todo lado, então o que
geralmente se encontra é a falência absoluta, é o esvaziamento total dos
cofres, é um mundo de pendências e débitos, é o descalabro total. E grande
parte disso provocado após os resultados das urnas, depois que o prefeito foi
derrotado. Por todo lugar persiste essa velha prática do esvaziamento de um
lado e o enchimento de outro, ou seja, a prefeitura quebrada e o gestor na
bonança.
Diante
destes e outros fatos, não tenho como corretas medidas tomadas por
insatisfações políticas. Dispensar contratados, acabar com serviços essenciais,
deixar alunos sem aula e merenda, além de outras medidas danosas à população, e
logo imediatamente após uma derrota eleitoral, não pode ter outro nome senão
perseguição. Sob uma tardia e frágil justificativa de contenção de despesas não
se deveria punir pobres contratados, alunos que muitas vezes só tem a merenda
como alimento do dia, ou deixar de prestar serviços tão necessários à
população.
As
despesas devem ser diminuídas a partir daqueles altos salários e de tantas outras
benesses existentes, bem como daqueles cargos comissionados por apadrinhamento,
e não cortando na carne o osso do já desvalido. Se há real necessidade em tal
contenção, que se comece por cima, pelo peixe graúdo, e não por baixo, pelo
humilde motorista ou pela carente merendeira. E quem bom seria se as auditorias
fossem além da prefeitura para alcançar também o próprio gestor e seus
secretários e apadrinhados.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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