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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

OS PALHAÇOS POR AÍ


*Rangel Alves da Costa


Há pelo mundo afora uma verdadeira febre de palhaços. Mas não aquele artista alegre, fanfarrão, vestindo roupas coloridas e espalhafatosas, portando perucas engraçadas e sempre com alguma piada à boca, mas a sua verdadeira antítese. Os palhaços surgidos agora, quase sempre soturnos e noturnos, objetivam disseminar o medo. Mesmo por mera imitação e sem a intencionalidade maldosa, acabam provocando temor em muitas pessoas, principalmente crianças.
Ora, por trás daquela máscara pode haver um insano, um marginal, alguém objetivando a prática de algum mal. Daí que o medo vai além da figura em si - por si mesma assustadora em meio às sombras ou de repente surgida numa esquina ou saída de esconderijo - para se efetivar na sua representação. E representa medo real, repulsa, aversão, pois palhaço de verdade não utiliza máscara apavorante ou usa maquiagem em assombrosos contornos.
Fato é que vem se acentuando um verdadeiro pânico mundial com a proliferação destas figuras. Tais casos não são novos, vez que sempre houve relatos de palhaços atemorizando comunidades. Mas nada como agora. Todos os dias a imprensa surge com novas informações de mascarados avistados em lugares sombrios. Parecendo saídos das telas dos filmes de terror, com roupas burlescas e disfarces apavorantes, e geralmente levando à mão objetos perfurantes, surgem dos escondidos e se colocam à espreita.
A proliferação de tais aparições tomou diversos contornos, vez que se transformou em verdadeiro modismo, o que, por si só, dificulta o entendimento das reais intenções dos mascarados. Brincadeiras de mau gosto também fazem com que pessoas se vistam assim. Certamente há aqueles que agem com premeditação do mal, mas também uma maioria que é levada pelo efeito midiático e se reveste de palhaço apenas para assustar. Até que tome uma cacetada de alguém ou seja preso pela polícia.
No Brasil, diversas fotografias e relatos dão conta dos constantes avistamentos de palhaços em diversas localidades, tanto nas capitais como nas cidades interioranas. Mesmo que não passem de mascarados da moda, sem nenhuma intencionalidade maldosa, a verdade é que muita gente tem evitado até sair de suas casas após o anoitecer e até escolas têm se ressentido de baixa frequência de alunos. Tanto os pais como as crianças não querem o desprazer de um susto ou de algo pior.
A situação de pânico ganhou tamanha proporção que palhaços de verdade, artistas circenses e outros profissionais do riso, levantaram a voz em defesa de sua classe. Segundo os artistas, lamentável que um bando de desordeiros, gente que parece não ter o que fazer, e que seja lá com que intenção possua, agora aja para macular a imagem de pessoas que outra coisa não fazem senão propagar alegria e diversão. E com razão, pois se está transformando a simbologia do riso numa metáfora de medo e terror.
Pelo mundo inteiro se conhece a arte do palhaço como sendo aquela da fantasia, do imaginário, do riso. O palhaço é sempre lembrado pelas suas piadas, gestos espalhafatosos, traquinices para provocar sorrisos e alegrias. Em analogia ao seu usual comportamento de gozação e chacota, eis que o termo palhaço foi passando a significar também outros comportamentos de zombaria e escárnio costumeiros na população, no eleitor e principalmente nos políticos e governantes.
É neste último sentido que rotineiramente se diz ser o Brasil um grande circo. E assim porque o povo é tratado como palhaço, pois sempre servindo de chacota e zombaria. O eleitor é sempre visto como palhaço, eis que as promessas e os tratos políticos surgem como verdadeiras e desrespeitosas gozações. Também por que o eleitor é palhaço de si mesmo ao aceitar ser chacoteado e ainda assim abrir um sorriso de adoração ao candidato ou político. E este quase sempre tido como a maior atração do circo Brasil. Observando-se que há dois momentos distintos no espetáculo: o eleitor palhaço antes da eleição, e o político palhaço após. Cada um é tratado com bolinha vermelha no nariz segundo o seu momento.
Perante o contexto, tudo pode ser visto como palhaçada. Toda campanha política se torna em ridículo, em espalhafato, em verdadeira zombaria do eleitor. Todo político se esmera em chacotear do povo, em tratá-lo como palhaço. Todo político acha que o povo é otário, pode ser debochado e enganado.  Por sua vez, após ser tratado como boboca e mesmo assim acatado sua idiotice através do voto, mais tarde o eleitor certamente irá dizer: votei num palhaço, num mentiroso, num enganador. E os próprios meandros da política e da governança acabam sendo vistos como palhaçada: tudo rindo do sofrimento do povo.
Imaginava-se, então, que perante a rotina com tantos palhaços e palhaçadas, o povo já estivesse mais acostumado com disfarçados e mascarados. Mas não. Sempre há um medo novo nas suas vidas. Contudo, sabem que os palhaços do poder assustam de outro modo. E estes vagantes de agora apenas com a pobreza de espírito que possuem.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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