*Rangel Alves da
Costa
Há pelo
mundo afora uma verdadeira febre de palhaços. Mas não aquele artista alegre,
fanfarrão, vestindo roupas coloridas e espalhafatosas, portando perucas engraçadas
e sempre com alguma piada à boca, mas a sua verdadeira antítese. Os palhaços
surgidos agora, quase sempre soturnos e noturnos, objetivam disseminar o medo.
Mesmo por mera imitação e sem a intencionalidade maldosa, acabam provocando temor
em muitas pessoas, principalmente crianças.
Ora, por
trás daquela máscara pode haver um insano, um marginal, alguém objetivando a
prática de algum mal. Daí que o medo vai além da figura em si - por si mesma
assustadora em meio às sombras ou de repente surgida numa esquina ou saída de
esconderijo - para se efetivar na sua representação. E representa medo real,
repulsa, aversão, pois palhaço de verdade não utiliza máscara apavorante ou usa
maquiagem em assombrosos contornos.
Fato é que
vem se acentuando um verdadeiro pânico mundial com a proliferação destas figuras.
Tais casos não são novos, vez que sempre houve relatos de palhaços atemorizando
comunidades. Mas nada como agora. Todos os dias a imprensa surge com novas
informações de mascarados avistados em lugares sombrios. Parecendo saídos das
telas dos filmes de terror, com roupas burlescas e disfarces apavorantes, e
geralmente levando à mão objetos perfurantes, surgem dos escondidos e se colocam
à espreita.
A
proliferação de tais aparições tomou diversos contornos, vez que se transformou
em verdadeiro modismo, o que, por si só, dificulta o entendimento das reais
intenções dos mascarados. Brincadeiras de mau gosto também fazem com que
pessoas se vistam assim. Certamente há aqueles que agem com premeditação do
mal, mas também uma maioria que é levada pelo efeito midiático e se reveste de
palhaço apenas para assustar. Até que tome uma cacetada de alguém ou seja preso
pela polícia.
No Brasil,
diversas fotografias e relatos dão conta dos constantes avistamentos de
palhaços em diversas localidades, tanto nas capitais como nas cidades
interioranas. Mesmo que não passem de mascarados da moda, sem nenhuma
intencionalidade maldosa, a verdade é que muita gente tem evitado até sair de
suas casas após o anoitecer e até escolas têm se ressentido de baixa frequência
de alunos. Tanto os pais como as crianças não querem o desprazer de um susto ou
de algo pior.
A situação
de pânico ganhou tamanha proporção que palhaços de verdade, artistas circenses
e outros profissionais do riso, levantaram a voz em defesa de sua classe.
Segundo os artistas, lamentável que um bando de desordeiros, gente que parece
não ter o que fazer, e que seja lá com que intenção possua, agora aja para
macular a imagem de pessoas que outra coisa não fazem senão propagar alegria e
diversão. E com razão, pois se está transformando a simbologia do riso numa
metáfora de medo e terror.
Pelo mundo
inteiro se conhece a arte do palhaço como sendo aquela da fantasia, do
imaginário, do riso. O palhaço é sempre lembrado pelas suas piadas, gestos
espalhafatosos, traquinices para provocar sorrisos e alegrias. Em analogia ao
seu usual comportamento de gozação e chacota, eis que o termo palhaço foi
passando a significar também outros comportamentos de zombaria e escárnio
costumeiros na população, no eleitor e principalmente nos políticos e
governantes.
É neste
último sentido que rotineiramente se diz ser o Brasil um grande circo. E assim
porque o povo é tratado como palhaço, pois sempre servindo de chacota e
zombaria. O eleitor é sempre visto como palhaço, eis que as promessas e os
tratos políticos surgem como verdadeiras e desrespeitosas gozações. Também por
que o eleitor é palhaço de si mesmo ao aceitar ser chacoteado e ainda assim
abrir um sorriso de adoração ao candidato ou político. E este quase sempre tido
como a maior atração do circo Brasil. Observando-se que há dois momentos
distintos no espetáculo: o eleitor palhaço antes da eleição, e o político
palhaço após. Cada um é tratado com bolinha vermelha no nariz segundo o seu
momento.
Perante o
contexto, tudo pode ser visto como palhaçada. Toda campanha política se torna
em ridículo, em espalhafato, em verdadeira zombaria do eleitor. Todo político
se esmera em chacotear do povo, em tratá-lo como palhaço. Todo político acha
que o povo é otário, pode ser debochado e enganado. Por sua vez, após ser tratado como boboca e
mesmo assim acatado sua idiotice através do voto, mais tarde o eleitor
certamente irá dizer: votei num palhaço, num mentiroso, num enganador. E os
próprios meandros da política e da governança acabam sendo vistos como
palhaçada: tudo rindo do sofrimento do povo.
Imaginava-se,
então, que perante a rotina com tantos palhaços e palhaçadas, o povo já
estivesse mais acostumado com disfarçados e mascarados. Mas não. Sempre há um
medo novo nas suas vidas. Contudo, sabem que os palhaços do poder assustam de
outro modo. E estes vagantes de agora apenas com a pobreza de espírito que
possuem.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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