Rangel Alves da Costa*
Sou dividido em tantos quanto dividido
estiver entre a cidade e o sertão. Nascido num, vivendo noutro, sou metade de
um e metade do outro, num todo que se chama existência. Por isso sou asfalto e
chão, sou apenas manhã e o mais belo alvorecer. Sou comida sem gosto e prato do
mato, sou comida pronta e sarapatel apurado. Sou luminária e sou candeeiro, sou
shopping e sou botequim, sou farmácia e remédio de quintal. Sou fumaça e céu
sem estrelas e a mais bela lua em negrume estrelado. Sou o automóvel e o
carro-de-boi, sou a buzina e lombo do jumento ou cavalo. Sou o grito e a
algazarra e a paz silenciosa dos campos e estradas nuas. Sou edifícios e
mansões e sou casebres e taperas, sou planta de plástico e cactos fincados na
terra. Sou o desconhecido e o conhecido de todos, o triste e o alegre, o forasteiro
e o sertanejo de pé no chão. Sou o copo de vidro e a moringa de barro, o
cardápio e a comida de fogo de chão. Sou o bicho feroz da cidade e o passarinho
que voa com seu canto em plangência. Sou o daqui e o de lá, sou o de lá e o
daqui. Mas como me dói não ser apenas de lá, do meu sertão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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