*Rangel Alves da Costa
Lembro-me muito bem de sinos dobrando ao
anoitecer. Na povoação interiorana onde nasci, todo santo dia, que fosse de
chuva ou apenas de lua surgindo, os sinos da igrejinha ecoavam na hora sagrada
da Ave-Maria. Não era um chamado a missa ou qualquer outro ofício religioso,
mas apenas anunciando que chegada a hora da prece, da reza, de acender velas e
unir as mãos em oração. Era um badalar ao menos tempo singelo e entristecido,
vez que pelas janelas adiante as sombras da noite chegada e as ruas mais
mansamente silenciosas. Então em meio aos cheiros de café torrado e fogões de
lenha acesos, aquele som ecoando em badaladas. Grito e silêncio, brado e
sussurro, assim o toque e seu distanciamento. Um instante também de saudades,
de memórias velhas, de lágrimas antigas, pois com os sinos também as lembranças
daqueles que já não estavam ali para o ofício da sagrada oração. Mas agora, no
mesmo horário de outros tempos, sequer uma badalada vindo da igreja. O silêncio
dos sinos, a fé forjada no esquecimento.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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