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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Palavra Solta – ser cronista de que?


*Rangel Alves da Costa


Não faz muito tempo que surgiam livretos intitulados “Cronistas brasileiros” ou “As melhores crônicas brasileiras”, cujos autores escolhidos envolviam nomes como Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade, dentre outros. Os escritos pautavam-se por serem verdadeiros relatos cotidianos, acerca de vivências do dia a dia ou tomados da memória, como requer a arte da crônica. E ler tais relatos, tantas vezes surgidos fresquinhos nos jornais, causava imensa satisfação. Lia-se sobre um tempo de amigos, de praças, de milhos e de pombos, de calçadas e proseados, de ruas e seus conhecidos, de realismos cotidianos. Era como se o cronista estivesse conversando com o leitor e relatando circunstâncias do seu dia a dia, de seus encontros e desencontros. Mas hoje, escrever sobre o que? Qual a crônica atual que traga em si alguma sensibilidade, algum sentimentalismo, alguma memória boa? Crônicas de sangue, de violências, de barbaridades. Para tal não necessita mais que o escritor se debruce sobre as barbáries humanas. Basta que os jornais derramem sobre as manhãs as mazelas do dia anterior, exalando a vermelhidão putrefata e ecoando ainda todo o grito de dor e sofrimento.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

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