*Rangel Alves da Costa
O poder atual é construído ainda na
perspectiva defendida por Raymundo Faoro em sua famosa obra “Os Donos do
Poder”: um poder corrompido na raiz e que foi se perpetuando pela força
econômica dos grupos políticos surgidos a cada período. Na obra de Faoro, remonta
ao colonialismo português o patronato político forjado no poder econômico, com
suas nefastas consequências.
Aquele poder nascera concentrado nas mãos de
poucos e assim continuou. O poderio econômico sempre se orientou na busca do poder
político, a partir de grupos com as mesmas características e ambições, renovando-se
apenas nos clãs familiares e patronais surgidos, assim como grandes
latifundiários, coronéis, oligarcas, senhores de engenho, políticos e
governantes.
Como se pode depreender, os retratos antigos
ainda estão nas paredes de agora. E novas fotografias surgem com as mesmas
feições, vez que nada parece mudar quando se trata do alicerçamento ao poder.
As velhas práticas continuam tão usuais quanto a importância dos nomes e
sobrenomes, das fortunas e das ambições. Na perspectiva de os fins justificarem
os meios, há sempre a leitura numa cartilha onde se ensina somente a utilizar
de todos os meios e artifícios para o alcance e a manutenção do poder.
Entretanto, há um fato novo que vem ganhando
cada vez mais importância. Como o poder não pode ser totalmente exercido
pessoalmente pela classe política, então surgem ramificações, nas pessoas de
auxiliares, que se assumem como igualmente poderosos. Não somente poderosos
como perigosos, pois tudo serão capazes de fazer para se manterem nos cabides
dos mandos e das influências. Estes são, nas medidas de suas ações, os novos
donos do poder. E este sempre paralelo e auxiliar ao poder maior.
Há poderes políticos que assim se manifestam
por raízes familiares, pelas longevidades nos governos, nas casas legislativas
federais, nas assembleias, nas prefeituras e nas câmaras municipais, ou mesmo
pelas repentinas vitórias eleitorais. Tais poderes acabam repassando forças de
mando e ação a um corpo de pessoas que logo se torna reconhecido. São os
auxiliares, ministros, secretários, adjuntos, escolhidos a dedo e que passam a
agir por delegação. E estes, mesmo sendo subordinados, logo procuram mostrar
suas forças.
Os novos donos do poder, pois, são aqueles
que passam a exercer poderes por delegação de governantes e políticos. Além
daqueles escolhidos como auxiliares, até mesmo bajuladores e apadrinhados se
arvoram de poderio de mando. Em muitas situações, é de fácil percepção onde
estão e como agem tais novos donos do poder. Estão pelos arredores dos
gabinetes, nas secretarias, nos altos cargos em comissão, bajulando ou
endeusando seu comandante.
Tais novos donos do poder são muito mais
maquiavélicos do que seus líderes, mesmo que não raro ajam por determinação.
São protetores de alguns aliados, partidários e familiares. São perseguidores
implacáveis de adversários e opositores. São estrategistas da maldade, da
derrocada do outro, da difamação e da desonra. Vivem manipulando fatos e dados,
bem como espalhando mentiras e interesses escusos. Transformam realidades em
aparências e sempre gostam de serem temidos.
Por abraçarem tão fortemente os meandros do
poder e, com isto, também suas facilidades, muitos deles não conseguem fugir
das tantas tentações surgidas. E por isso mesmo se envolvem em roubalheiras dos
cofres públicos, em fraudes licitatórias, em atos da mais deslavada corrupção.
O fato de desejarem nivelar o emergente poder ao status social, bem como
aproveitar o máximo da situação para sua ascenderem financeiramente, permite
que os escândalos logo apareçam e seus nomes tomem as páginas dos jornais.
Com o recente pleito para prefeitos e
vereadores, novos grupos de poder já estão se formando. São estes que irão
ditar os destinos dos municípios a partir de janeiro. E também são estes que se
acharão os donos do mundo e, principalmente, da vida de cada um. Sem falar na
sede desmedida de tirar máximo proveito de tudo, principalmente daquilo que não
deveriam.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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