SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 12 de março de 2017

Palavra Solta – o grilo


*Rangel Alves da Costa


Grilo insuportável. Depois do entardecer sempre a mesma coisa. O pior é que sinto a presença, ouço o barulho, procuro e procuro e nunca encontro nada, apenas a repetição: cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri. Mexo e remexo em tudo, viro e reviro por todo lugar e nada. Mas quando penso que o insuportável cricrilar desapareceu, eis que novamente ouço, como a um passo de onde estou: cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri. Já derrubei dois pés de mangueira, uma jaqueira, três mamoeiros, um pé de jabuticaba, sempre imaginando que o grilo se escondeu por ali, mas nada. A cada derrubada e novamente ouvia: cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri. Não há toco de pau que eu não já tenha botado abaixo. Em meio às pedras, nas funduras do quintal, em tudo que é entranha, por todo lugar já cacei o bicho. Mas quanto mais caço e nada encontro mais ouço: cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri. Só falta agora derrubar a casa, porém temo não haver jeito. Há um grilo em todo lugar. Até creio que o tal grilo não exista enquanto inseto, mas apenas com as coisas miúdas que se repetem e vão tornando o mundo e o viver insuportáveis.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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