*Rangel Alves da Costa
Grilo insuportável. Depois do entardecer
sempre a mesma coisa. O pior é que sinto a presença, ouço o barulho, procuro e
procuro e nunca encontro nada, apenas a repetição: cricri cri, cricri cri, cricri
cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri. Mexo e remexo em tudo, viro e reviro
por todo lugar e nada. Mas quando penso que o insuportável cricrilar
desapareceu, eis que novamente ouço, como a um passo de onde estou: cricri cri,
cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri. Já derrubei dois
pés de mangueira, uma jaqueira, três mamoeiros, um pé de jabuticaba, sempre
imaginando que o grilo se escondeu por ali, mas nada. A cada derrubada e
novamente ouvia: cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri,
cricri cri. Não há toco de pau que eu não já tenha botado abaixo. Em meio às
pedras, nas funduras do quintal, em tudo que é entranha, por todo lugar já
cacei o bicho. Mas quanto mais caço e nada encontro mais ouço: cricri cri,
cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri, cricri cri. Só falta agora
derrubar a casa, porém temo não haver jeito. Há um grilo em todo lugar. Até
creio que o tal grilo não exista enquanto inseto, mas apenas com as coisas
miúdas que se repetem e vão tornando o mundo e o viver insuportáveis.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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