*Rangel Alves da Costa
Que lua imensa na sua cabeça. Que lua tão
grande no seu juízo. Que lua tão majestosa na sua mente. Que lua tão exagerada
em seu pensamento. Que lua descomunal em suas ações e atitudes. Que lua tão
aluada em todo o ser.
Aluado? Doido? Adoidado? Lunático? Um
excêntrico divagante? Alguém que sobre a pedra grande para falar com a noite,
com as estrelas e a lua? Alguém que sai de si para ser outro além de si, sempre
influenciado pela luz da imensa lua?
Um aluado, apenas. E o que isto seja. Numa
concepção mais romântica, aluado seria aquele apaixonado pela lua, aquele
desejoso de lua, aquele que despertando em maior intensidade pela forma,
tamanho e claridade da lua.
Ou um lunático, apenas. Mas não um lunático
numa acepção de loucura, de ensandecimento, de insanidade ou alienação. Mas sim
de pessoa que tem na lua sua força matriz, que por ela se guia, que por ela
sente amor, amizade, verdadeira paixão.
Mas por que, de repente, dependendo do
tamanho, da forma e da luz da lua, ele tanto se transforma? Por que seu
comportamento, que já é normalmente exasperado, intranquilo, afoito demais,
transmuda-se ainda mais depois que a noite cai e a lua desce com seu
resplendor?
Mas que tanta estranheza! No alto da pedra
onde costuma ficar, de vez em quando se levanta e abre os braços e grita, e
chama a lua, e diz que vai voar até lá. Joga pedras dizendo que são flores,
lança gravetos dizendo que são beijos, arremessa tudo o que encontrar pelos
arredores.
Perante a lua, principalmente quando é lua
está cheia, gorda, brilhosa demais, seus olhos chamejam igual um lençol d’água
derramado de sol. E não é um brilho normal, certamente não é. E quem olhar
atentamente, bem ao fundo daqueles ovalados brilhosos, haverá de encontrar ali
a própria lua. Cheia, inteira, na sua grandeza maior.
Feito um lobo uivando no alto da estepe, nas
alturas da noite sua voz entoa uma triste canção: “Minha amada venha me levar
da rua, pois não sou do mundo, sou apenas da lua. Minha amada desça com seu
clarão sobre mim e me beije tanto que seja o meu fim, e feliz morrerei pela lua
que amei...”.
Juntou penas de passarinhos, de galinha, de
peru, de meio mundo de bicho de pena, e a tudo entrelaçou para fazer um par de
asas. Triste Ícaro com suas asas de cera em busca de seu sonho sob o sol. E na
noite abriu os braços, lançou-se aos espaços e mergulhou em lágrimas. O seu céu
se fez pelo chão.
Levado ao chão, desacordado pelo impacto da
queda, ainda assim sonhou que a lua desceu, alisou seus cabelos, acariciou sua
face, beijou o seu rosto e prometeu que um dia o levaria para viver no coração
de sua luz. Despertou sobressaltado, todo contente, mas se fez em novo pranto
ao abrir os olhos: noite negra, escura, negrume total, sem lua alguma...
Dessa feita não retornou à sua casa, ao seu
quarto de dormir. Subiu novamente na pedra e aí permaneceu, entre soluços e
lágrimas, esperando o retorno da lua. Mas a lua não veio, nessa noite a lua não
retornou. Em seu lugar as nuvens prenhes de água derramaram enxurradas tão
fortes que ele só faltou deslizar pela pedra.
Na noite seguinte, quando a lua entrou pela
fresta da janela de seu quarto, o encontrou tão febril que o corpo chegava a
tremular. Teve pena de seu apaixonado, entristeceu só de ver e sentir aquela
angustiante situação. E tudo por que na noite passada aquelas nuvens de chuva a
impediram de brilhar e fazer a festa daquele olhar.
Então a lua inteira entrou pela janela e se
aproximou da cama onde ele, murmurando palas sem nexo pela doença, dizia que
tudo estava escuro demais e que não via sua amada. Então a lua, chorosa e
aflita demais pelo que tinha de fazer, apenas fechou os seus olhos e o levou
consigo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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