Rangel Alves da
Costa*
Eu, você, todas
as pessoas ao redor, talvez todos desejemos viver em paz, com tranquilidade, em
harmonia, aproveitando o melhor que a vida possa oferecer. E todos somos nós. A
vida assim, pacífica e harmoniosa, não nos prenderia sufocantemente e não
forçaria a estar desatando os nós, outros nós, que nos chegam como laços e
aflições.
Mas, e
infelizmente, nós nos tornamos, a cada passo, reféns de outros nós. Nós,
pessoas que somos, indivíduos que estamos, quase nada mais podemos pensar em
ser se os nós das incertezas, das dificuldades e dos reveses não nos deixassem
emperrados na caminhada. Os outros nós, cordames entrelaçados na vida, procuram
sempre ficar mais apertados.
Nós,
sujeitos, que somos cordas, fios e linhas soltas em busca de realizações, nem
sempre podemos fugir dos nós que se formam mais adiante; nós, que estamos em
constante busca da liberdade, nos vemos entrelaçados precisamente quando os
objetivos já estão tão próximos de serem alcançados. Nós sempre reféns dos nós,
aqueles que se apertam para nos ameaçar.
Os nós
chegam para afligir o que há em nós. Os nós, esses entrançamentos difíceis de
ser desfeitos, cada vez mais apertados e doloridos, cada vez mais sufocantes e
angustiantes, surgem para desassossegar o que se imaginava livre como um
pássaro na sua caminhada. Adiante, quando o que se deseja é apenas prosseguir,
eis que as linhas se enovelam, se retorcem e se misturam, embaralhando tudo.
Os nós que
nos chegam aprisionando não são os nós que queremos ser. Queremos ser nós na
simplicidade da junção e do compartilhamento, e não os nós do aprisionamento.
Os nós que desejamos ser nos bastam nos laços da amizade, e não naqueles nós
que nos deixam ser liberdade para a ação.
Por
natureza, nascemos sem nós e com a possibilidade de, através da união, sermos um
todo em nós. O homem não nasceu curvado perante si, os grupos humanos não
surgiram já retorcidos e embaraçados; todos, formando tudo o que há em nós,
somos predestinados a viver sem as impiedosas amarras, sem os nós. Contudo, as
linhas da estrada são misturadas, confundidas, e se transforma em nós o que
seria linha reta.
Nós e nós.
Um e outro. Tão iguais e tão contraditórios. Diferentes, mas com o mesmo poder
de atratividade e de fixação. O plural do substantivo masculino nó vai
exsurgindo, vai despontando, se entrelaçando no pronome pessoal nós, e de
repente tudo é um nó em nós. E nós amarrados pelos nós; nós que impedem a
retidão das linhas que há em nós.
Eis que as
palavras são as mesmas, os mesmos sons, as mesmas pronúncias, mas significações
bem distintas e distantes. Nós e nós, um que nasce de vários nós, de vários
enlaçamentos, formando algo difícil de ser desfeito; e nós, como junção de duas
ou mais pessoas, uma diversidade que jamais gostaria de se ver entrelaçada.
Nós: Pronome,
pois palavra que substitui os nossos nomes; indica as pessoas do discurso;
primeira pessoa do plural; pronome pessoal do caso reto; pronome pessoal do
caso oblíquo tônico. Nós somos, nós estamos, nós queremos. Eu e você somos nós;
todos somos nós.
Nós: Substantivo
masculino; entrelaçamentos apertados de dois ou mais fios ou cordas; laços feitos
de cordas ou de coisas semelhantes, cujas extremidades passam uma pela outra,
apertando-se. E também tudo que está enlaçado, preso, enrodilhado; os laços
complicados que se dá na corda.
Ou ainda,
com relação aos entrelaçamentos, eis que são as situações difíceis de resolver;
os estorvos ou embaraços criados; as uniões, os laços e os vínculos; os pontos
essenciais de uma questão e que precisam ser resolvidos. E é por isso que se
diz dos nós como enrascadas, como empecilhos para prosseguimento de algo.
Mas o que
o “nós”, enquanto pessoas, teria a ver com os “nós”, estes relacionados a
amarrações ou liames de difícil soltura? Só há uma resposta. Até que aprendamos
a fugir das ciladas e dos indesejados encontros viveremos nos nós criados por
nós mesmos.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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