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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

POVO BRASILEIRO. QUE POVO?


Rangel Alves da Costa*


De vez em quando o povo tem uns arroubos, solta uns gritos, parte pra luta, chuta o pau da bandeira, reivindica com todo fervor patriótico. No dia seguinte o arrebatamento deixa a mídia estupefata e surgem os escritos dizendo que enfim o povo acordou e reagiu, que a conscientização pôs as massas em ação, que agora parece que a coisa vai. Mas nada vai.
No Brasil nada vai além do instante, daquele surto, daquela explosão momentânea. No momento seguinte e tudo já é devidamente esquecido, o caçador novamente se transforma em caça, o transformador se entrega à leniente submissão, a indignação adormece eternamente em berço esplêndido. Então tudo volta àquela normalidade podre, apática e deprimente já tão conhecida.
Por que o brasileiro é assim é tão instável, tão covarde, tão escravizado por conta própria, tão tudo e nada de bom, de positivo? Por que o brasileiro mais parece um pavio que de repente sobe em labareda e no instante seguinte já é fagulha morta? Por que é tão esquecido, descompromissado, inconsequente com os próprios atos, (ir)responsável pelo que de pior lhe possa acontecer?
E mais indagações necessárias. Por que o brasileiro aceita com tanta conivência os descalabros políticos, as roubalheiras políticas, as corrupções, as lavagens de dinheiro, as improbidades? Por que nunca aprende com os erros, nunca quer enxergar o lamaçal adiante, se nega a contradizer as inverdades que tanto afetam o seu mundo? Por que nunca toma vergonha na cara, não se respeita, não valoriza sua honra e sua dignidade humana?
Seria uma infinidade de questionamentos e ainda assim não seria possível obter uma resposta para a questão maior: Por que o brasileiro é tão indigno de ser chamado de cidadão? Ora, cidadão é aquele que preserva sua identidade, sua honra, seu caráter, e através do exercício de sua cidadania reivindica o bem-estar social e defende seus direitos contra tudo e todos. E exerce a cidadania aquele que vive num mundo conformista, de passividade, de tanto faz como tanto fez?
O que ocorre com o povo brasileiro é algo realmente merecedor de estudo aprofundado. É impossível conceber ou acreditar que um povo que ontem estava gritando sua indignação, hoje esteja novamente ajoelhado aos pés do carrasco; é totalmente incompreensível que um povo que reclama tanto da carestia, da qualidade de vida, da violência, dos baixos salários e das mazelas que assolam os quatro cantos, de repente abra a boca para dizer que esse governo é positivo.
As últimas pesquisas não deixam mentir. Não faz muito tempo, logo após as manifestações, a descrença na política e nos políticos se mostrou absoluta, o descrédito no governo também, e os índices de rejeição se mostraram assustadores para quem pretende a reeleição. E agora, pouco tempo depois, tudo está voltando à normalidade, eis que os índices de aprovação do governo já estão subindo cada vez mais e até já se cogita numa vitória no primeiro turno. Será que o povo brinca de existir, não sabe o que diz ou o que faz, ou simplesmente é masoquista de carteirinha?
Ou estou maluco ou preciso que me respondam: O que mudou para que a opinião do povo também mudasse? Nada. Nadica de nada, apenas o povo voltou a ser o que sempre foi, ou seja, esquecido, negligente, conformista, um verme abjeto repousando feliz debaixo das botas do poder e da política. Realmente, não pode ser visto com seriedade um povo que não sabe o que quer, que hoje diz uma coisa e amanhã já está completamente esquecido, que se compromete agora e mais tarde já está bajulando o opressor.
Por isso mesmo que todo dia eu digo e repito que se o povo argentino, por qualquer razão, resolva declarar guerra e invadir o Brasil, certamente terá vitória mais que garantida. Eis que ali corre um sangue europeu, destemido, lutador, que não tem medo de confrontar o poder, e não um avinagrado como esse que corre nas veias brasileiras. O brasileiro chega a ser tão covarde que não tem coragem de assumir sua ineficácia social e política.
Pelo contrário. Gosta mesmo é de viver preguiçosa e covardemente sob o lema tão sabiamente firmado por De Gaule: “Verdadeiramente, o Brasil não é um País sério!”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Doutor Rangel: Esta sua indignação é a mesma minha. Pergunto: Quando teremos um Brasil forte em todos os sentidos?
Quando não ouviremos mais falar em falcatruas e coisas parecidas?
Não sei o que você acha; eu porém acho que uma tentativa com o nobre Ministro Joaquim Barbosa, seria uma boa tentativa para a próxima eleição.
Esperemos que ele aceite o convite que um certo partido efetuou. Confio na coragem e inteligência do Ministro.
Abraços,
Antonio Oliveira - Serrinha-Ba. e-mail: antonioj.oliveira@yahoo.com.br