Rangel Alves da
Costa*
De vez em
quando o povo tem uns arroubos, solta uns gritos, parte pra luta, chuta o pau
da bandeira, reivindica com todo fervor patriótico. No dia seguinte o
arrebatamento deixa a mídia estupefata e surgem os escritos dizendo que enfim o
povo acordou e reagiu, que a conscientização pôs as massas em ação, que agora
parece que a coisa vai. Mas nada vai.
No Brasil
nada vai além do instante, daquele surto, daquela explosão momentânea. No momento
seguinte e tudo já é devidamente esquecido, o caçador novamente se transforma em
caça, o transformador se entrega à leniente submissão, a indignação adormece
eternamente em berço esplêndido. Então tudo volta àquela normalidade podre,
apática e deprimente já tão conhecida.
Por que o
brasileiro é assim é tão instável, tão covarde, tão escravizado por conta
própria, tão tudo e nada de bom, de positivo? Por que o brasileiro mais parece
um pavio que de repente sobe em labareda e no instante seguinte já é fagulha
morta? Por que é tão esquecido, descompromissado, inconsequente com os próprios
atos, (ir)responsável pelo que de pior lhe possa acontecer?
E mais
indagações necessárias. Por que o brasileiro aceita com tanta conivência os
descalabros políticos, as roubalheiras políticas, as corrupções, as lavagens de
dinheiro, as improbidades? Por que nunca aprende com os erros, nunca quer
enxergar o lamaçal adiante, se nega a contradizer as inverdades que tanto
afetam o seu mundo? Por que nunca toma vergonha na cara, não se respeita, não
valoriza sua honra e sua dignidade humana?
Seria uma
infinidade de questionamentos e ainda assim não seria possível obter uma
resposta para a questão maior: Por que o brasileiro é tão indigno de ser
chamado de cidadão? Ora, cidadão é aquele que preserva sua identidade, sua
honra, seu caráter, e através do exercício de sua cidadania reivindica o bem-estar
social e defende seus direitos contra tudo e todos. E exerce a cidadania aquele
que vive num mundo conformista, de passividade, de tanto faz como tanto fez?
O que
ocorre com o povo brasileiro é algo realmente merecedor de estudo aprofundado.
É impossível conceber ou acreditar que um povo que ontem estava gritando sua
indignação, hoje esteja novamente ajoelhado aos pés do carrasco; é totalmente
incompreensível que um povo que reclama tanto da carestia, da qualidade de
vida, da violência, dos baixos salários e das mazelas que assolam os quatro
cantos, de repente abra a boca para dizer que esse governo é positivo.
As últimas
pesquisas não deixam mentir. Não faz muito tempo, logo após as manifestações, a
descrença na política e nos políticos se mostrou absoluta, o descrédito no
governo também, e os índices de rejeição se mostraram assustadores para quem
pretende a reeleição. E agora, pouco tempo depois, tudo está voltando à
normalidade, eis que os índices de aprovação do governo já estão subindo cada vez
mais e até já se cogita numa vitória no primeiro turno. Será que o povo brinca
de existir, não sabe o que diz ou o que faz, ou simplesmente é masoquista de
carteirinha?
Ou estou
maluco ou preciso que me respondam: O que mudou para que a opinião do povo
também mudasse? Nada. Nadica de nada, apenas o povo voltou a ser o que sempre
foi, ou seja, esquecido, negligente, conformista, um verme abjeto repousando
feliz debaixo das botas do poder e da política. Realmente, não pode ser visto
com seriedade um povo que não sabe o que quer, que hoje diz uma coisa e amanhã
já está completamente esquecido, que se compromete agora e mais tarde já está
bajulando o opressor.
Por isso
mesmo que todo dia eu digo e repito que se o povo argentino, por qualquer
razão, resolva declarar guerra e invadir o Brasil, certamente terá vitória mais
que garantida. Eis que ali corre um sangue europeu, destemido, lutador, que não
tem medo de confrontar o poder, e não um avinagrado como esse que corre nas
veias brasileiras. O brasileiro chega a ser tão covarde que não tem coragem de
assumir sua ineficácia social e política.
Pelo
contrário. Gosta mesmo é de viver preguiçosa e covardemente sob o lema tão
sabiamente firmado por De Gaule: “Verdadeiramente, o Brasil não é um País
sério!”.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Caro Doutor Rangel: Esta sua indignação é a mesma minha. Pergunto: Quando teremos um Brasil forte em todos os sentidos?
Quando não ouviremos mais falar em falcatruas e coisas parecidas?
Não sei o que você acha; eu porém acho que uma tentativa com o nobre Ministro Joaquim Barbosa, seria uma boa tentativa para a próxima eleição.
Esperemos que ele aceite o convite que um certo partido efetuou. Confio na coragem e inteligência do Ministro.
Abraços,
Antonio Oliveira - Serrinha-Ba. e-mail: antonioj.oliveira@yahoo.com.br
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