SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 2 de outubro de 2013

PALAVRAS SILENCIOSAS – 393


Rangel Alves da Costa*


“Nunca saio daqui...”.
“Nunca deixo o meu quarto...”.
“Jamais viajo...”.
“Não sei mais de estradas...”.
“Não conheço caminhos nem horizontes...”.
“Tudo o que sei...”.
“Tudo o que vejo e sinto...”.
“Somente através da janela...”.
“Da janela do meu quarto...”.
“Que está sempre aberta...”.
“Ao amanhecer ou entardecer...”.
“Ao anoitecer ou na madrugada...”.
“E o vento soprando...”.
“O vento entrando pela minha janela...”.
“Trazendo notícias e cantigas...”.
“Trazendo segredos e revelações...”.
“Daí que não tenho mundo...”.
“Mas tenho minha janela...”.
“Com retratos e fotografias...”.
“Com baús e despensas...”.
“Com cartas e bilhetes...”.
“Com temores e segredos...”.
“Com alegrias e felicidades...”.
“Através da janela vejo tudo...”.
“A lua poética e romântica...”.
“Mas também o luar entristecido...”.
“Vejo o sol resplandecente...”.
“E o mesmo sol se escondendo na nuvem...”.
“Vejo passar o passado...”.
“Enxergo toda a realidade...”.
“Avisto até o futuro...”.
“Vi o cortejo levando o alferes...”.
“Vi o escravo sendo açoitado...”.
“Vi a prostituta chorando de amor...”.
“Vi a adúltera abrindo a janela...”.
“Vi a manchete triste...”.
“Vi o cortejo fúnebre de uma solidão...”.
“Vi o doido procurando uma doida...”.
“Vi o poeta procurando uma lua...”.
“Vi um apaixonado procurando uma flor...”.
“Vi o carteiro esquecendo uma carta...”.
“Vi o bêbado e o equilibrista...”.
“Vi multidões gritando indignações...”.
“Vi a mão de esmola...”.
“Vi a fome e a sede...”.
“Vi o larápio tentando se esconder...”.
“Vi a procissão e o andor...”.
“Vi a chuva caindo...”.
“Vi o menino correndo nu pela rua...”.
“Via a menina na janela do outro lado...”.
“Vejo o noctívago andante...”.
“Vi o solitário em busca de solidão...”.
“E de vez em quanto me vejo também...”.
“E todas as vezes vou chegando apressado...”.
“Para entrar no meu quarto...”.
“E abrir a minha janela...”.
“Com olhos encharcados de lágrimas...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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