SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 31 de outubro de 2013

PALAVRAS SILENCIOSAS – 422


Rangel Alves da Costa*


“O tempo pode fazer o que quiser comigo...”.
“Inevitável que seja assim...”.
“Afinal ele transforma tudo...”.
“Comanda a vida e o destino...”.
“Traz o desalento e o cansaço...”.
“Os reumatismos e outras doenças...”.
“Recurva corpo e diminui o passo...”.
“Torna-nos mais solenes e tristes...”.
“Enche as paredes de fotografias...”.
“Faz esquecer os modismos...”.
“E nos coloca entristecidos diante do espelho...”.
“Eis que surgem as rugas e os cabelos brancos...”.
“As marcas passadas e a distância do olhar...”.
“Assim é o inevitável tempo...”.
“Contudo, jamais permitirei...”.
“Que ele entre na minha esfera sentimental...”.
“No meu íntimo mais íntimo...”.
“Lá onde guardo o melhor que possuo...”.
“Para me fazer esquecer daquilo...”.
“Vivenciado entre flores e espinhos...”.
“Por isso mesmo tempo...”.
“Não se atreva a mexer na minha memória...”.
“A esconder minha bola de gude...”.
“Não esconda meu cavalo de pau...”.
“Não dê sumiço à minha bola de meia...”.
“Deixe em paz minhas noites de antigamente...”.
“Os meus dias ensolarados de brincadeiras...”.
“Minhas carreiras e tropeços pelos descampados...”.
“Nem pense em destruir meu papagaio enfeitado...”.
“Em desfazer de minha peteca baleadeira...”.
“Em sumir com minhas pontas de vaca...”.
“Em esvaziar minha bola de espuma...”.
“Por mais que você, tempo...”.
“Possa tudo fazer...”.
“Comigo há de se ver...”.
“Se esconder as velhas fotografias...”.
“Minha nudez infantil...”.
“Correndo pelas ruas em dias de chuva...”.
“Haverá de prestar contas...”.
“Se esconder meus brinquedos...”.
“Se rasgar meus primeiros versos...”.
“Se riscar do caderno o nome de minha namoradinha...”.
“Se me fizer esquecer o primeiro beijo...”.
“Se murchar aquela flor que ainda guardo...”.
“Se me tirar da memória...”.
“Os cafunés de minha avó...”.
“O bolo de macaxeira...”.
“O doce de leite de bolas...”.
“As estórias tantas que ouvi um dia...”.
“Não afaste de mim meu bicho-papão...”.
“Os seres encantados da mata...”.
“Nada disso tente afastar de minha vida...”.
“Pois tudo o meu verdadeiro ser...”.
“Que envelhece...”.
“Mas continua menino sertanejo...”.
“Traquina, rebuliçoso...”.
“Tão sertanejo...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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