Rangel Alves da
Costa*
Igual
peregrino em busca da montanha para alongar sua visão de mundo, tal qual o
sábio que espera um discípulo para as boas palavras, como o viajante que na
humildade e simplicidade dialoga com pássaros e outros seres, eis a caminhada
de Vilder Santos. Ou alguém que anda por aí envolto de luz e sabedoria.
Tarefa difícil
qualificá-lo nos seus afazeres, diferentemente de delineá-lo no seu jeito de
ser. Professor, radialista, poeta do triverso, pesquisador incansável, é uma
verdadeira biblioteca ambulante. Das páginas de sua memória surgirão respostas
para todo tipo de questionamento, pois homem culto sem ter a intelectualidade
pedante dos especialistas. Folheia mentalmente desde impensáveis manuscritos
aos conhecimentos mais atualizados.
Por isso
mesmo também reconhecido como verdadeiro baú de antigas curiosidades, de fatos
pitorescos de outros cotidianos, de histórias e mais histórias desde que era
Aracaju era terra de cajueiros e papagaios. Traz sempre consigo fatos, datas,
números, contextos; enfim, o passado na acessibilidade da informação mais
confiável. Mas lhe dói recordar o parque Carrossel do Tobias, pertencente a
seus pais e tão importante nas tardes natalinas do Aracaju de outros tempos.
Vez por
outra o jornalista Luiz Eduardo Costa faz constar de sua página dominical no
Jornal do Dia alguma importante relembrança trazida pelo Professor Vilder. Um
dado histórico sobre o futebol, o exsurgir das cinzas de um acontecimento já
desprezado pelas transitoriedades da vida, precisamente aquilo que não pode ser
relegado pelos anais da história sergipana. Acessível a todos, terá sempre como
honra ser abordado nas ruas para uma indagação.
De muitos
já ouvi que quem não conhecer o Professor Vilder o acaba tomando por um simples
caminhante que passa apressado para comprar o pão e o leite; de outros ouvi que
dificilmente o passante imaginaria quanta potencialidade intelectual e tamanha
grandeza humana acompanha aquele homem de baixa estatura, magro, cabelo baixo,
de tez amorenada e sorriso sempre aguardando um chamado. Realmente, Vilder
Santos contrasta a primeira visão, pois pequenino e imenso, silencioso e
gritante, pacato demais e tão importante.
Importante
sim, e de uma importância fundamental para a vida cultural, educacional,
histórica e humana de Sergipe. Nascido em família com longas raízes políticas,
filho de político atuante, pois seu pai, o saudoso Milton Santos, teve assento
garantido na câmara municipal em sete legislaturas e foi figura das mais
prestigiadas na política aracajuana, ainda assim Vilder reservou para si outro
destino. Frequentou com avidez os bancos escolares, foi estudar em outras
cidades, procurou se aprofundar em lições da religiosidade no Curso de Teologia
Pedagógica e talvez até tivesse pensado no sacerdócio.
Porém,
como dito, seu destino era outro. Abraçou os livros como abraça a vida, fez da
busca do conhecimento toda sede e fome que possam existir num homem, percorreu
seu caminho como alguém que precisava urgentemente chegar. Mas chegar aonde? Ao
berço sólido do conhecimento, à indestrutível seara da formação acadêmica e
humana. Daí ter se formado em Letras e Direito pela UFS, além de haver
percorrido muitos outros caminhos do saber. E certamente não quis permanecer
nas lides jurídicas porque sua concepção humanista e educacional lhe mostrava
outro caminho.
Enveredou
de vez pelos caminhos da educação, ensinando e aprendendo para ensinar, e se
tornou conhecido como Professor Vilder. Seu percurso no magistério é dos mais
profícuos. Ensinou no Ginásio Municipal Belém de Maria (em Pernambuco), no
Atheneu, no Colégio 15 de Outubro, no Instituto de Educação Rio Barbosa, no Colégio
Alcebíades Melo Vilas Boas e em outros centros educacionais. Pela sua cátedra
passaram disciplinas como Português, Linguistica, OSPB e Moral e Cívica.
Colocado à disposição da UFS durante 15 anos, lecionou Estudos de Problemas
Brasileiros e depois Psicologia Geral e Português Instrumental.
É também
radialista profissional e verdadeiramente apaixonado pelo rádio. Sua paixão é
tanta por tudo que aconteça no rádio que atualmente ruboriza emocionado, como
num idílio juvenil, ao falar numa locutora de uma emissora paulista que,
segundo diz, possui a voz de despertar corações. Já manteve programa
radiofônico regular, mas hoje parece gostar mais de participar como ouvinte ou
dando pequenas entrevistas. Por isso que não é difícil encontrá-lo ouvindo um
radinho de pilha.
Encontro-o
sempre pelas ruas com seu caminhado de cabeça baixa, pensativo, reflexivo, ou
no mercadinho pelos lados da seção de frutas e verduras. Parece ser adepto
apenas da horta e do pomar. Solteiro, não fuma nem bebe, mas convive e se
embriaga com a imensidão de livros que se avolumam e se espalham na sua
moradia. Dorme com os livros, sonha com os livros. Sua vida são páginas de
todos os livros num só livro pequenino e singelo. E quanta sabedoria em cada
página.
Assim é o
Professor Vilder. Alguém que anda por aí carregando uma pastinha com poucos escritos.
Mas a pujança de sua bagagem está na mente, na inteligência, no conhecimento.
Quem dera professor, quem dera amigo Vilder, que todos fossem iguais a você.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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