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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A CALÇADA E A CIDADE (O CAOS ADMINISTRATIVO COMEÇA EM ALGUM LUGAR)


Rangel Alves da Costa*


A administração de um município ou cidade abrange todos os setores da vida urbana e periférica, buscando sempre resolver os problemas surgidos nos mais diferentes lugares e objetivando transformar positivamente a sua feição. E isto em nome da qualidade de vida da população e do desenvolvimento da própria cidade e arredores. Nasce de um plano de governo que se colocado em prática com eficiência e continuidade terá por consequência o progresso conjunto.
O trabalho eficiente de um administrador de capital, por exemplo, exige uma percepção da cidade tanto partindo da periferia para o centro como deste em direção às áreas mais carentes e estruturalmente problemáticas. É a visão conjunta e a ação perante o todo, ainda que a partir de obras específicas, que vão transformando a feição da cidade e fazendo reconhecida a atuação do administrador. Contudo, quando problemas de fácil resolução são simplesmente ignorados ou tratados com persistente cegueira, logo será reconhecido o total descompromisso com a cidade.
Ademais, como uma metástase que vai surgindo de um pequeno problema não resolvido e depois se alastra irremediavelmente pelo corpo inteiro, a cidade também vai se enfermizando e deteriorando cada vez mais quando sintomas de má administração são detectados e não resolvidos. E o mais grave é que o descaso com problemas tidos como de fácil resolução por qualquer administração responsável acaba se tornando o diagnóstico exato da feição deplorável de toda a cidade.
E assim porque quem não tem capacidade, não quer ou não está nem aí para resolver um pequeno problema surgido num determinado ponto do lugar que administra, também se mostra sem compromisso algum com a resolução de problemas maiores. Ora, quando a administração municipal conhece os locais onde os pequenos problemas ocorrem, é alertada e cobrada pela população, e nada faz para resolver uma coisa simples, pequena, de modo fácil e rápido, logo testemunha a sua ineficiência como um todo. E assim porque o que é pequeno e não resolvido se torna na metástase, na proliferação do caos administrativo.
Em Aracaju, os exemplos são muitos neste sentido, mas um especialmente impressiona pela forma como contradiz os discursos de cidade limpa, atraente, urbanisticamente organizada e com eficiente serviço de limpeza urbana, sem esquecer a tão propalada qualidade de vida. O problema todo reside num lixão que todo santo dia, chovendo ou fazendo sol, surge tomando toda a calçada de uma das principais ruas do centro da cidade, que é a Rua Santo Amaro, no trecho entre as ruas Geru e São Cristovão.
Quem desejar comprovar basta que após as duas horas da tarde se dirija até aquela rua e tente passar pela calçada na altura do número 311. Talvez não consiga e tenha que dividir a rua com os veículos em alta velocidade. Assim acontece porque ali funciona um restaurante que após o almoço fecha as portas e coloca todo o lixo em cima da calçada. E não é pouco resíduo não, pois são sacolões imensos, sacos, caixas e toda uma parafernália cheia de restos de tudo, desde cascas de verduras a restos de comida. O lixo é em quantidade tão grande que vai tomando toda a calçada, impedindo que as pessoas caminhem por ali. E não raro que as bolsas estourem e uma lama aquosa e putrefata vá se acumulando ao redor.
Tal fato ocorre todos os dias, e desde muito tempo, sempre a partir das duas horas da tarde, sempre no mesmo lugar, causando os mesmos transtornos para pedestres, as lojas ali instaladas e comerciários, e nenhuma providência jamais foi tomada pelo órgão municipal de limpeza urbana, que é a EMSURB. Mas não por falta de provocação nem de pedido para a tomada de providências. Há uns três meses este articulista enviou dois comunicados via e-mail para o órgão, sendo um deles respondido pela chefia de gabinete da presidência. E esta comunicou que estaria repassando o relato para seu superior, porém até hoje nada foi feito para resolver o problema daquele lixão.
Mas o problema não se resume apenas ao lixo em grande quantidade que todos os dias é indevidamente colocado naquela calçada. Por si só já é inaceitável o fato de as pessoas não poderem passar por um local que todas as tardes é tomado por detritos e imundícies, e por terem de caminhar ao lado de líquidos malcheirosos escorrendo dos sacolões. O problema maior está no fato que é inadmissível que tal absurdo esteja ocorrendo, e desde muito, numa das principais ruas do centro comercial da cidade.
Não se trata, pois, de fato que ocorra apenas uma vez ou outra, mas todos os dias e a partir do mesmo horário. Do mesmo modo, a EMSURB jamais pode alegar que não tem conhecimento desse lixão urbano. Ademais, nem precisaria ter sido informada por este articulista, vez que é também de sua competência tomar conhecimento e fiscalizar tais ocorrências. Mas se nada faz, se não notifica o responsável pelo local para que imediatamente providencie outra destinação aos seus resíduos, apenas demonstra o descaso com a limpeza urbana, a feição da cidade e o respeito a todos os aracajuanos e visitantes.
Como demonstrado, a partir do que ocorre numa simples calçada da cidade pode ser visualizada a feição geral de uma administração municipal. Quando um problema pequeno não é resolvido, então não se imagine que grandes soluções urbanísticas virão. É o velho ditado: pelo pó acumulado se conhece o cuidado do dono da casa.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com      

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