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domingo, 3 de agosto de 2014

SÍNDROME DE GIRASSOL


Rangel Alves da Costa*


Dificilmente você irá ler ou ouvir falar sobre a Síndrome de Girassol. Não tenho conhecimento de alguém que tenha se dado o prazer de refletir acerca do modo de ser do girassol, sua relação com o sol e os motivos de a flor ser tão submissa e dependente dos raios solares. E desse contexto esboçar uma teoria, com primado próprio, mas servindo como metáfora para inúmeras situações da vida. E presentes a cada instante e por todo lugar.
É do conhecimento geral que o girassol ((Helianthus annuus L., pertencente à família das Asteráceas) é uma planta cujas flores alaranjadas, longas e majestosas, tornam qualquer paisagem num cenário de sonhos. Olhar uma plantação de girassóis é o mesmo que avistar um manto dourado de beleza inigualável. E quanto mais o sol esteja forte mais a flor brilha imponente. Flores chamadas Helianthus, porém mais conhecidas como flores do sol.
Mas é a sua característica heliotrópica (que gira em direção ao sol ou que se volta para a luz solar) que mais impressiona. As flores heliotrópicas vão realizando movimentos que sempre seguem os raios do sol, de leste a oeste, e durante a noite adormecem de modo a amanhecer voltadas para o nascer do sol. Deveras impressionante.
A cristandade prega que o ser humano deva viver como o faz a flor do girassol, sempre buscando a luz divina para absorção da força espiritual e acumulando graças pela persistência em crer no poder das coisas celestiais. Deus seria o sol e o homem o girassol, cuja flor nada mais é que o respeito e a devoção por aquele que o ilumina.
A flor do girassol possui muitos significados. Muitos acreditam que é a constante busca da realização e da felicidade, é o homem tentando alcançar sua força interior. A cor forte das folhas, em tons alaranjados, perpassa ideia de calor, de disposição, de chama à ação, de vitalidade e entusiasmo. De qualquer modo, a noção de energia positiva sempre está presente no girassol. Traz também sorte e boas vibrações quando utilizada em ornamentação.
Mas ainda praticamente nada expressei acerca da teoria que formulei acerca do heliotropismo do girassol e sua relação com as realidades cotidianas, que numa síntese seria a Síndrome de Girassol. Antecipo que síndrome pode ser visto como um conjunto de sintomas ou sinais que caracterizam uma condição ou, mais popularmente, um conjunto de características que apontam uma situação.
Desse modo, logo defino a Síndrome de Girassol como a propensão humana para se guiar, se direcionar, se amoldar ou viver sob a dependência de outro ser humano, e por este representar o poder, a força, o medo ou o amor. Por outras palavras, a síndrome proposta é aquela onde alguém vê o outro com superioridade e a partir daí não se sente capaz viver senão em nome e em função daquele.
Para entender a síndrome basta pensar como se dá a relação entre o girassol e o sol. As flores brilham por causa do sol, vivem seguindo seus raios, tornando-se verdadeiramente dependentes de suas propensões. E a dependência é tal que a planta vai girando, vai fazendo o mesmo percurso do sol. Não obstante isso se recolhe quando não há mais luz solar e adormece voltada para o local onde irá ressurgir na manhã seguinte.
Assim também com muitas pessoas e na realidade da vida, no cotidiano da existência. Seres humanos existem que passam a se afeiçoar ao sol perante o girassol. Estes são igualmente pessoas, porém adoradas, idolatradas, tidas como forças vitais. Daí a demasiada veneração, a absoluta obediência, o surgimento de uma relação quase que de total dependência. Mas também as situações cujas exacerbadas adorações não passam de oportunismos e conveniências.
Quem ama demais, por exemplo, não é difícil que se posicione perante a pessoa amada como um girassol sempre carente das graças do amor. Muitos filhos, ainda que já adultos, têm seus pais como verdadeiros raios solares. Não são raras as situações aonde a sabedoria de uns vai ganhando discípulos que se tornam verdadeiros girassóis. Visíveis os girassóis abertos também naqueles fanáticos perante os líderes e gurus.
Mas também existem os falsos girassóis, assim como os bajuladores em relação a políticos, chefes e qualquer um que tenha status e poder. E também os girassóis da ilusão, da fantasia, sempre avistados em pessoas que se tornam apaixonados por artistas, bandas, times e jogadores. E são inúmeras as situações onde, ao menos momentaneamente, pessoas praticamente deixam de existir para si mesmas e se entregam a adorações exasperadas.
Creio não haver uma só pessoa que não guarde em si algum sintoma da Síndrome de Girassol. E assim porque sempre há alguém que absolutamente nos guia, nos molda e motiva, nos faz tê-lo em pensamento quase a todo o momento. Dizer o contrário seria incorrer em complexo, Complexo de Girassol. Mas aí é outra história.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com   

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