Rangel Alves da Costa*
Dificilmente você irá ler ou ouvir falar
sobre a Síndrome de Girassol. Não tenho conhecimento de alguém que tenha se
dado o prazer de refletir acerca do modo de ser do girassol, sua relação com o
sol e os motivos de a flor ser tão submissa e dependente dos raios solares. E
desse contexto esboçar uma teoria, com primado próprio, mas servindo como
metáfora para inúmeras situações da vida. E presentes a cada instante e por
todo lugar.
É do conhecimento geral que o girassol ((Helianthus
annuus L., pertencente à família das Asteráceas) é uma planta cujas flores
alaranjadas, longas e majestosas, tornam qualquer paisagem num cenário de
sonhos. Olhar uma plantação de girassóis é o mesmo que avistar um manto dourado
de beleza inigualável. E quanto mais o sol esteja forte mais a flor brilha
imponente. Flores chamadas Helianthus, porém mais conhecidas como flores do
sol.
Mas é a sua característica heliotrópica (que
gira em direção ao sol ou que se volta para a luz solar) que mais impressiona.
As flores heliotrópicas vão realizando movimentos que sempre seguem os raios do
sol, de leste a oeste, e durante a noite adormecem de modo a amanhecer voltadas
para o nascer do sol. Deveras impressionante.
A cristandade prega que o ser humano deva
viver como o faz a flor do girassol, sempre buscando a luz divina para absorção
da força espiritual e acumulando graças pela persistência em crer no poder das
coisas celestiais. Deus seria o sol e o homem o girassol, cuja flor nada mais é
que o respeito e a devoção por aquele que o ilumina.
A flor do girassol possui muitos
significados. Muitos acreditam que é a constante busca da realização e da
felicidade, é o homem tentando alcançar sua força interior. A cor forte das
folhas, em tons alaranjados, perpassa ideia de calor, de disposição, de chama à
ação, de vitalidade e entusiasmo. De qualquer modo, a noção de energia positiva
sempre está presente no girassol. Traz também sorte e boas vibrações quando
utilizada em ornamentação.
Mas ainda praticamente nada expressei acerca
da teoria que formulei acerca do heliotropismo do girassol e sua relação com as
realidades cotidianas, que numa síntese seria a Síndrome de Girassol. Antecipo
que síndrome pode ser visto como um conjunto de sintomas ou sinais que caracterizam
uma condição ou, mais popularmente, um conjunto de características que apontam
uma situação.
Desse modo, logo defino a Síndrome de
Girassol como a propensão humana para se guiar, se direcionar, se amoldar ou
viver sob a dependência de outro ser humano, e por este representar o poder, a
força, o medo ou o amor. Por outras palavras, a síndrome proposta é aquela onde
alguém vê o outro com superioridade e a partir daí não se sente capaz viver
senão em nome e em função daquele.
Para entender a síndrome basta pensar como se
dá a relação entre o girassol e o sol. As flores brilham por causa do sol,
vivem seguindo seus raios, tornando-se verdadeiramente dependentes de suas
propensões. E a dependência é tal que a planta vai girando, vai fazendo o mesmo
percurso do sol. Não obstante isso se recolhe quando não há mais luz solar e
adormece voltada para o local onde irá ressurgir na manhã seguinte.
Assim também com muitas pessoas e na
realidade da vida, no cotidiano da existência. Seres humanos existem que passam
a se afeiçoar ao sol perante o girassol. Estes são igualmente pessoas, porém
adoradas, idolatradas, tidas como forças vitais. Daí a demasiada veneração, a
absoluta obediência, o surgimento de uma relação quase que de total
dependência. Mas também as situações cujas exacerbadas adorações não passam de
oportunismos e conveniências.
Quem ama demais, por exemplo, não é difícil
que se posicione perante a pessoa amada como um girassol sempre carente das
graças do amor. Muitos filhos, ainda que já adultos, têm seus pais como
verdadeiros raios solares. Não são raras as situações aonde a sabedoria de uns
vai ganhando discípulos que se tornam verdadeiros girassóis. Visíveis os
girassóis abertos também naqueles fanáticos perante os líderes e gurus.
Mas também existem os falsos girassóis, assim
como os bajuladores em relação a políticos, chefes e qualquer um que tenha
status e poder. E também os girassóis da ilusão, da fantasia, sempre avistados
em pessoas que se tornam apaixonados por artistas, bandas, times e jogadores. E
são inúmeras as situações onde, ao menos momentaneamente, pessoas praticamente
deixam de existir para si mesmas e se entregam a adorações exasperadas.
Creio não haver uma só pessoa que não guarde
em si algum sintoma da Síndrome de Girassol. E assim porque sempre há alguém
que absolutamente nos guia, nos molda e motiva, nos faz tê-lo em pensamento
quase a todo o momento. Dizer o contrário seria incorrer em complexo, Complexo
de Girassol. Mas aí é outra história.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário