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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

ASPECTOS DA FORMAÇÃO DOCENTE


Rangel Alves da Costa*


O processo de formação docente é tecido educacional que continua instigando teóricos, pesquisadores e os próprios docentes. Jamais consensualizam acerca dos melhores caminhos para uma eficiente formação de professores. Realmente não é tarefa fácil, principalmente considerando-se que o processo de formação encontra barreiras não só de qualidade, mas principalmente do componente ideológico do futuro educador.
Contudo, de modo geral o que se vislumbra não é só o fato da formação do educador, mas todo um cenário que se apresenta na sua atuação profissional. Do mesmo modo, o tipo de educador que se forma, quais seus objetivos, sua atuação no processo educacional, seu modo de operar o saber em alinhamento com a realidade social, bem como a ultrapassando para conhecimento maior dos contextos subjacentes.
A maioria dos estudiosos comunga a ideia que a formação docente, muito mais que um ato de capacitar para o ensino, deve capacitar o educador para ser crítico, com visão multidisciplinar, sabendo relacionar conteúdos educacionais com a realidade presente e, principalmente, tendo o dom da educação verdadeiramente transformadora. Creio, contudo, ser um ideário reducionista, pois tal discurso só ganha contornos de realidade quando o professor subverte a sua própria atuação e transforma sua docência numa luta contra as ideologias escolares que tentam, a todo custo, esbarrar os avanços, as atitudes verdadeiramente inovadoras.
A concepção que atualmente se faz da formação docente possui aspectos bastante diferenciados daquilo que, tantas vezes, se presencia na realidade. Quer dizer, a prática pouco diz respeito ao que se apregoa teoricamente. Pretende-se uma educação transformadora, mas a própria escola, amparada que está no sistema educacional, ainda caminha com passos conservadores, com ensino baseado apenas na retransmissão, valorizando-se sempre os conteúdos em detrimento do despertar da consciência crítica do alunado. Quer dizer, infelizmente ainda se forma aquele tipo de professor que nada mais faz em sala de aula que transmitir datas, conteúdos acabados, fórmulas exatas. Não há, na verdade, uma preocupação maior com o saber, com a valorização do pensamento, com o diálogo entre o currículo e a realidade social.
Por mais que não se queira acreditar, mas o tradicionalismo inerte e conformista ainda está presente na atual formação do educador. Não que a instituição formativa não tenha modificado as formas de trabalhar as práticas docentes, mas pela falta de iniciativa dos próprios educadores. Ora, não raro que o professor aprende de uma forma, mas vai ensinar de outro jeito, de modo mais cômodo e costumeiro. Isto acontece por falta de maior espaço para o estágio. É a partir do estágio que o educador vai moldando sua forma de ensinar, ajustando seu pensamento às ideologias requeridas pela modernidade. E tendo acompanhamento, então se tornará muito fácil reparar arestas antes que a sala de aula seja enfrentada de forma ineficiente e retrógrada.
De qualquer modo, difícil não reconhecer que a formação precisa ser reformulada ou, ao menos, conduzida de modo a não dar demasiada liberdade ao educador antes que o mesmo esteja suficientemente preparado para construir uma feição educacional própria. E é na própria sala de aula que o professor vai conhecendo a realidade do ensino e as carências dos alunos e também aprendendo a se redirecionar perante as necessidades. De repente não mais estará apenas transmitindo conteúdos, mas propiciando uma realidade nova que se ajuste ao que deseja para seus alunos e a visão de mundo desejada para todos.
Por fim, há que se afirmar que a estrada docente é longa e que cada período letivo é apenas o limiar do caminho. Quanto mais procura aprimorar sua formação mais aprende que ainda está no início de tudo. De repente, os pensamentos são confrontados com novas realidades, as teorias mostram-se ultrapassadas e as práticas necessitando de novas engrenagens e redirecionamentos. Daí a importância da educação continuada do educador, como forma não apenas de conhecer mais sobre sua função, mas principalmente como meio de situá-lo perante novas realidades que clamam por uma nova educação. Algo como um ato educacional engajado com as verdadeiras transformações sociais.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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