Rangel Alves da Costa*
O processo de formação docente é tecido
educacional que continua instigando teóricos, pesquisadores e os próprios
docentes. Jamais consensualizam acerca dos melhores caminhos para uma eficiente
formação de professores. Realmente não é tarefa fácil, principalmente
considerando-se que o processo de formação encontra barreiras não só de
qualidade, mas principalmente do componente ideológico do futuro educador.
Contudo, de modo geral o que se vislumbra não
é só o fato da formação do educador, mas todo um cenário que se apresenta na
sua atuação profissional. Do mesmo modo, o tipo de educador que se forma, quais
seus objetivos, sua atuação no processo educacional, seu modo de operar o saber
em alinhamento com a realidade social, bem como a ultrapassando para conhecimento
maior dos contextos subjacentes.
A maioria dos estudiosos comunga a ideia que
a formação docente, muito mais que um ato de capacitar para o ensino, deve
capacitar o educador para ser crítico, com visão multidisciplinar, sabendo
relacionar conteúdos educacionais com a realidade presente e, principalmente,
tendo o dom da educação verdadeiramente transformadora. Creio, contudo, ser um
ideário reducionista, pois tal discurso só ganha contornos de realidade quando
o professor subverte a sua própria atuação e transforma sua docência numa luta
contra as ideologias escolares que tentam, a todo custo, esbarrar os avanços,
as atitudes verdadeiramente inovadoras.
A concepção que atualmente se faz da formação
docente possui aspectos bastante diferenciados daquilo que, tantas vezes, se
presencia na realidade. Quer dizer, a prática pouco diz respeito ao que se
apregoa teoricamente. Pretende-se uma educação transformadora, mas a própria
escola, amparada que está no sistema educacional, ainda caminha com passos
conservadores, com ensino baseado apenas na retransmissão, valorizando-se
sempre os conteúdos em detrimento do despertar da consciência crítica do
alunado. Quer dizer, infelizmente ainda se forma aquele tipo de professor que
nada mais faz em sala de aula que transmitir datas, conteúdos acabados,
fórmulas exatas. Não há, na verdade, uma preocupação maior com o saber, com a
valorização do pensamento, com o diálogo entre o currículo e a realidade
social.
Por mais que não se queira acreditar, mas o
tradicionalismo inerte e conformista ainda está presente na atual formação do
educador. Não que a instituição formativa não tenha modificado as formas de
trabalhar as práticas docentes, mas pela falta de iniciativa dos próprios educadores.
Ora, não raro que o professor aprende de uma forma, mas vai ensinar de outro
jeito, de modo mais cômodo e costumeiro. Isto acontece por falta de maior
espaço para o estágio. É a partir do estágio que o educador vai moldando sua
forma de ensinar, ajustando seu pensamento às ideologias requeridas pela
modernidade. E tendo acompanhamento, então se tornará muito fácil reparar
arestas antes que a sala de aula seja enfrentada de forma ineficiente e retrógrada.
De qualquer modo, difícil não reconhecer que
a formação precisa ser reformulada ou, ao menos, conduzida de modo a não dar
demasiada liberdade ao educador antes que o mesmo esteja suficientemente
preparado para construir uma feição educacional própria. E é na própria sala de
aula que o professor vai conhecendo a realidade do ensino e as carências dos
alunos e também aprendendo a se redirecionar perante as necessidades. De
repente não mais estará apenas transmitindo conteúdos, mas propiciando uma
realidade nova que se ajuste ao que deseja para seus alunos e a visão de mundo
desejada para todos.
Por fim, há que se afirmar que a estrada docente
é longa e que cada período letivo é apenas o limiar do caminho. Quanto mais procura
aprimorar sua formação mais aprende que ainda está no início de tudo. De
repente, os pensamentos são confrontados com novas realidades, as teorias
mostram-se ultrapassadas e as práticas necessitando de novas engrenagens e
redirecionamentos. Daí a importância da educação continuada do educador, como
forma não apenas de conhecer mais sobre sua função, mas principalmente como
meio de situá-lo perante novas realidades que clamam por uma nova educação.
Algo como um ato educacional engajado com as verdadeiras transformações
sociais.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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