Rangel Alves da Costa*
Mesmo pisando o áspero chão da realidade e os
caminhos tortuosos do tempo presente, tenho o passado como algo inseparável.
Sou verdadeiramente apaixonado pela História, por fatos e acontecimentos
históricos, pelos antepassados, por tudo aquilo que permita um reencontro com o
antigo, ou mesmo de um tempo não muito distante.
Tenho verdadeiro prazer em ler a respeito dos
reinados medievais, com seus reis com insígnias de sangue e brasões envoltos em
herdades e conquistas, bem como com seus cavaleiros guerreando pelos campos, guerreiros
intrépidos com suas lanças e armaduras. À frente a bandeira com a cruz e a
espada entrelaçadas, num misto de fé e ferocidade somente explicado pelas
razões do seu tempo.
Fico imaginando como teria sido o cotidiano
num imenso castelo, de torre e calabouço, com seus imensos salões, suas
fortificações e seus labirintos escurecidos. Construções imensas, portentosas,
erguidas na pedra bruta e no suor da servidão. Dependendo da força e do poder
do reinado e seu soberano, avistar o luxo do rei, a coragem dos fiéis
cavaleiros, a tristeza da princesa apaixonada, a vida tão difícil do servo e do
aldeão. Tudo isso me chega como um filme fascinante.
Como nas páginas de As Brumas de Avalon,
ponho-me a imaginar os segredos e os mistérios daqueles tempos medievais. Um
tempo sombrio, de batalhas cruéis, dolorosas, tantas vezes norteadas no seu
desfecho pelas forças ocultas. Sim, pois um tempo também de magias, bruxarias,
enfeitiçamentos, de oráculos e bacias sendo invocados em nome do futuro do
reino e da vitória na guerra. E os cavaleiros seguindo em meio às brumas espessas
para cumprir seus destinos. E em meio a tudo, por entre aquelas névoas
cinzentas, as surpresas e as coisas do outro mundo tão ameaçadoras.
Vejo a fumaça subindo das chaminés, tomando as
aldeias, o pão de água e trigo sendo amassado para ser levado ao forno de
lenha, a humilde aldeã recolhendo qualquer alimento pelos campos já
ressequidos. E também o bobo da corte querendo a todo custo alegrar um rei
entristecido demais pela velhice que vai domando suas forças. O vinho cai sobre
o cálice, o cacho de uvas ao redor, o pão e os assados sobre a mesa, o olhar lá
do ponto mais alto da torre: tão pujante e tão triste é o reino.
Os reinos medievais agora são apenas
história, mas os seus castelos, mesmo corroídos pelo tempo, ainda são
encontrados nas terras mais elevadas do continente europeu. Muitas dessas
construções, num misto de fortificação e moradia de reis, continuam desafiando
as intempéries e ainda estão imponentemente erguidos nas montanhas ou nos
rochedos de difícil acesso. Muitos já se transformaram em escombros, em
verdadeiras ruínas, mas ainda assim permanecendo como marco histórico de suma
importância.
Muitos daqueles países europeus surgiram dos
reinos primitivos e seus soberanos intrépidos, conquistadores e unificadores.
Inglaterra, Escócia, França, Dinamarca, Espanha, Portugal e tantas outras
nações modernas, surgiram a partir de um pequeno reino ao redor de um castelo.
Não raramente os próprios reis também saíam para guerrear, para submeter outros
povos e aumentar suas terras. Por isso muitos soberanos morreram tão jovens e
deixaram herdeiros que abriram guerras entre si, dividindo o reino e plantando
a semente de outras nações.
Mas não somente os reis mandavam erguer
imensos castelos. As classes poderosas de então, geralmente fazendo parte das
administrações reais, também recebiam uma imensidão de terras e logo procuravam
erguer suas moradias suntuosas, fortificadas. E assim as terras europeias foram
sendo pontuadas por castelos por todos os lugares. E muitas dessas fortalezas
continuam imponentes e suntuosas. Muitas delas nem precisaram de muitas
reformas, mas outras tiveram de receber intervenções para continuarem com a grandiosidade
que ainda hoje se avista.
Creio que não há quem não fique deslumbrado
diante de um castelo europeu, ainda que seja dos mais modernos. Imensas
construções, dezenas de quartos, salões, dependências e aposentos, e tudo
geralmente rodeado por belíssimos e sempre verdejantes jardins. E também fontes
de águas cristalinas ao redor de estátuas e caminhos floridos. E como os poucos
reis modernos só usam os castelos como locais de veraneio, os outros são
destinados a museus ou simplesmente abertos a visitação pública.
Contudo, o que me causa verdadeira inveja é
saber que muitos desses castelos são habitados por familiares de antigos
proprietários. Quer dizer, pessoas quase comuns (se não fossem os brasões
familiares e a riqueza) utilizam os castelos como moradias comuns, onde vivem,
adormecem e amanhecem. E eu querendo apenas entrar num daqueles portões, tocar
nas pedras antigas, abraçar as colunas imensas e gritar: História, estou aqui!
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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