Rangel Alves da Costa*
Muitas pessoas dizem sim querendo dizer não,
ou acabam dizendo não com vontade de dizer sim. Parece mesmo que tanto faz,
ainda que as consequências do sim e do não sejam bem diferentes.
Não é que sejam incertas ou duvidem da melhor
resposta. Também não é porque realmente não saibam como responder. Tudo
simplesmente se explica pelo distanciamento absurdo das realidades, coisas e
situações da vida.
Quem não conhece em profundidade se baseia
pela superfície. Quem não sabe o significado acredita ser o que não é. Quem não
tem compromisso com a realidade tanto faz que as aconteçam de qualquer modo.
Não há nenhuma preocupação em conhecer e
muito se aprofundar qualquer realidade ou fenômeno. Tudo se torna verdadeiro
apenas pela aparência, pela exterioridade, e jamais há qualquer questionamento
acerca disto ou daquilo.
O distanciamento da realidade, a indiferença
pelos acontecimentos e a passividade com tudo que acontece ao redor, são bem
característicos daqueles que fazem do sim um não, do inverso um avesso, num
tanto faz como tanto fez.
Geralmente são insensíveis, passivos,
apáticos. A indiferença os transforma em inativos, e a inatividade em
conformistas. E no conformismo a pura aceitação das realidades, sem qualquer
ação para transformá-las, ainda que sejam vitimados por estas.
Quem cala consente, quem não reclama aceita,
quem não se contrapõe reconhece. E muito mais. Quem não responde à altura vê
sua razão sucumbir, quem não expõe sua verdade vê sua certeza negada, quem não
reprime a ofensa será afetado ainda mais. São verdades incontestáveis.
Não é difícil encontrar pessoas que enxerguem
a luz da manhã com a mesma cor que avistam a escuridão. Não são raros aqueles
que têm as tempestades, temporais e vendavais com a mesma feição da brisa suave
ou da aragem leve do entardecer. Pássaros são urubus, gaviões são colibris, e
vice-versa.
As nuvens negras avançam, as tempestades se
anunciam, os trovões até começam a roncar, mas a pessoa vai lentamente estender
a roupa no varal. Chove forte, a casa fica toda molhada, mas a janela continua
aberta. A pessoa avista, sente os pingos caindo sobre si, mas nem se anima para
ao menos deixar a chuva somente do lado de fora.
Dizem que pessoas assim sofrem menos, não são
repentinamente afetadas pelos tristes acontecimentos que surgem. Não sofrem com
nem pelos seus, não choram seus mortos, não demonstram angústia, melancolia ou
saudade. A vida e a morte são apenas fatores, meros acontecimentos ou
situações, coisas, simplesmente.
Também dizem que pessoas assim não guardam
rancores, mágoas, ainda que tenham saído feridas numa guerra injusta. Não se
sentem ofendidas com mentiras e falsidades, tanto faz que digam que são feias
ou bonitas, gordas ou esqueléticas. Também tanto faz que enlameiem seu nome,
vez que não importa nada do que digam a seu respeito.
Mas não faltam aqueles que dizem que pessoas
assim não sabem sequer se estão vivas ou mortas, e que se vivas estiverem
melhor seria dar espaço para uma existência realmente ativa, consciente, crítica,
atuante. E também porque o mundo de conflitos e contradições requer seres
humanos que tenham responsabilidades consigo mesmas e com os destinos da
humanidade.
Contudo, tais pessoas esquecem-se da feição
realista tantas vezes presente na passividade, no conformismo, na aceitação, no
tanto faz visível no outro. Ao menos uma coisa o indiferente tem diferente dos
demais que se mostram tão ativos e revoltados: não nega a si mesmo, não
contradiz sua ação. É daquele jeito e pronto.
Diferentemente daquele que grita, reclama,
sai às ruas, ergue bandeiras, esbraveja contra tudo e todos, o indiferente abre
a voz de sua mente, pois a possui, e diz: jamais serei assim para amanhã fazer
de conta que não fiz nada disso.
E jamais levará a culpa por renegar as
próprias convicções. Melhor permanecer em silêncio, inerte, que jogar pedra na
Geni e depois por ela se apaixonar. A política, os políticos e os eleitos são a
prova maior que de nada vale ferir e depois curar com a própria desonra.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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