SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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terça-feira, 5 de agosto de 2014

SIM. OU NÃO. OU TANTO FAZ


Rangel Alves da Costa*


Muitas pessoas dizem sim querendo dizer não, ou acabam dizendo não com vontade de dizer sim. Parece mesmo que tanto faz, ainda que as consequências do sim e do não sejam bem diferentes.
Não é que sejam incertas ou duvidem da melhor resposta. Também não é porque realmente não saibam como responder. Tudo simplesmente se explica pelo distanciamento absurdo das realidades, coisas e situações da vida.
Quem não conhece em profundidade se baseia pela superfície. Quem não sabe o significado acredita ser o que não é. Quem não tem compromisso com a realidade tanto faz que as aconteçam de qualquer modo.
Não há nenhuma preocupação em conhecer e muito se aprofundar qualquer realidade ou fenômeno. Tudo se torna verdadeiro apenas pela aparência, pela exterioridade, e jamais há qualquer questionamento acerca disto ou daquilo.
O distanciamento da realidade, a indiferença pelos acontecimentos e a passividade com tudo que acontece ao redor, são bem característicos daqueles que fazem do sim um não, do inverso um avesso, num tanto faz como tanto fez.
Geralmente são insensíveis, passivos, apáticos. A indiferença os transforma em inativos, e a inatividade em conformistas. E no conformismo a pura aceitação das realidades, sem qualquer ação para transformá-las, ainda que sejam vitimados por estas.
Quem cala consente, quem não reclama aceita, quem não se contrapõe reconhece. E muito mais. Quem não responde à altura vê sua razão sucumbir, quem não expõe sua verdade vê sua certeza negada, quem não reprime a ofensa será afetado ainda mais. São verdades incontestáveis.
Não é difícil encontrar pessoas que enxerguem a luz da manhã com a mesma cor que avistam a escuridão. Não são raros aqueles que têm as tempestades, temporais e vendavais com a mesma feição da brisa suave ou da aragem leve do entardecer. Pássaros são urubus, gaviões são colibris, e vice-versa.
As nuvens negras avançam, as tempestades se anunciam, os trovões até começam a roncar, mas a pessoa vai lentamente estender a roupa no varal. Chove forte, a casa fica toda molhada, mas a janela continua aberta. A pessoa avista, sente os pingos caindo sobre si, mas nem se anima para ao menos deixar a chuva somente do lado de fora.
Dizem que pessoas assim sofrem menos, não são repentinamente afetadas pelos tristes acontecimentos que surgem. Não sofrem com nem pelos seus, não choram seus mortos, não demonstram angústia, melancolia ou saudade. A vida e a morte são apenas fatores, meros acontecimentos ou situações, coisas, simplesmente.
Também dizem que pessoas assim não guardam rancores, mágoas, ainda que tenham saído feridas numa guerra injusta. Não se sentem ofendidas com mentiras e falsidades, tanto faz que digam que são feias ou bonitas, gordas ou esqueléticas. Também tanto faz que enlameiem seu nome, vez que não importa nada do que digam a seu respeito.
Mas não faltam aqueles que dizem que pessoas assim não sabem sequer se estão vivas ou mortas, e que se vivas estiverem melhor seria dar espaço para uma existência realmente ativa, consciente, crítica, atuante. E também porque o mundo de conflitos e contradições requer seres humanos que tenham responsabilidades consigo mesmas e com os destinos da humanidade.
Contudo, tais pessoas esquecem-se da feição realista tantas vezes presente na passividade, no conformismo, na aceitação, no tanto faz visível no outro. Ao menos uma coisa o indiferente tem diferente dos demais que se mostram tão ativos e revoltados: não nega a si mesmo, não contradiz sua ação. É daquele jeito e pronto.
Diferentemente daquele que grita, reclama, sai às ruas, ergue bandeiras, esbraveja contra tudo e todos, o indiferente abre a voz de sua mente, pois a possui, e diz: jamais serei assim para amanhã fazer de conta que não fiz nada disso.
E jamais levará a culpa por renegar as próprias convicções. Melhor permanecer em silêncio, inerte, que jogar pedra na Geni e depois por ela se apaixonar. A política, os políticos e os eleitos são a prova maior que de nada vale ferir e depois curar com a própria desonra.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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