*Rangel Alves da Costa
Seu Tonico é meu velho amigo. Eu era criança
e ele já envelhecido. O tempo passou e sua velhice parece petrificada. Rochosa
na sabedoria, no proseado, na amizade, no seu belo jeito de ser. Toda vez que
vou ao sertão sempre dou um jeitinho de avistá-lo. Gosta de sentar na malhada,
no meio do tempo, em riba de um antigo e carcomido tronco deitado de baraúna.
Segundo já ouvi, e acredito, um tronco mais velho ainda que Seu Tonico. Desde
longe o avisto na paz do seu tempo. E já sei o que tá fazendo: assuntando com a
natureza, espiando as lonjuras que se estendem além, fumando seu cigarrinho de
palha. Cigarro de palha mesmo, de fumo pinicado e espalhado em palha seca de
milho. E também sei que de vez em quando, sempre antes de ir almoçar coisa
pouca, gosta de tomar uma talagada de cachaça com raiz de pau. Segundo ele,
nada melhor que uma pinga pra proteger a barriga da comida de hoje, impura e
sem gosto. Ao me aproximar, logo sinto seu olhar distante procurar minha
direção. Não sorri na boca, e sim no olhar. Então sei que aprova a minha
presença. E dai em diante, em meio a causos e proseados, sequer olho o relógio.
E não precisaria mesmo. Em Seu Tonico o tempo, a vida em seu feição maior,
tudo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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