*Rangel Alves da Costa
Cancão de
bico afiado, de garra em punhal ardente, de labareda no olho, de chaminé
arquejante nas ventas e de fogaréu bravejante do bico adentro. Bicho danado o
cancão, e perigoso também. Mais perigoso e cruel ainda quando se lasca a cuspir
fogo pelas ventas, pelo bico, pelas ventas, pela boca, pelas entranhas
queimosas. Dizem quem é o cancão que toca fogo na mataria seca, esturricada, na
coivara no meio do tempo. Dizem também que é o cancão que faz tudo encalourar
certas horas do dia. A pessoa pensa que o mundo tá acabando de tanto calor, mas
é o cancão cuspindo fogo lá nas distâncias. Não obstante essa fama de ardência
cuspideira, a verdade é que o cospe-fogo é avistado em diversas outras
situações da vida. Embrenha-se no copo de pinga e quando o cabra vira o copo o
fogaréu já tá feito. Quando dois desafetos se encontram, logo o cancão se
divide em dois e faz cuspir fogo em cada um. E é uma desgraceira sem fim. Mas
dentro de casa o cancão também solta sua labareda medonha. É cancão cuspindo
fogo no homem brigando com a mulher, e a mulher jogando nele cancão e tudo
cheio de fogo e brasa. O cancão só não cospe fogo numa situação. Quando tem
ciúme de sua amada, a cancã. Não cospe fogo porque o ciúme é tão grande, a
raiva é tão grande, que tem medo de virar labareda e morrer esturricado de
amor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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