*Rangel Alves da Costa
Não sou gato no cio. Disso eu tenho certeza.
Não subo no telhado ou na cama para desesperadamente miar a ausência de uma
gatinha. Sinto falta sim, mas já faz tanto tempo que não ouço um rosnar perto
de mim que vou suportando como posso minhas noites vazias. Lembro muito bem da
última vez que fui azunhado por uma felinazinha tão bela quanto traquina. A
danadinha me fez apaixonado e depois pulou pela janela sumiu na rua em meio à
gataria. Ainda hoje sinto suas unhas lanhando meu corpo. Muitos outros miados
foram ouvidos no meu telhado. Hoje não resta uma gata sequer, nem uma só que me
faça perder noites de sono. Talvez seja isso que falte em mim: gata no telhado,
gata em cima da cama, gata no umbral da janela, gata pelos escondidos da casa.
O problema maior, contudo, é essa mania minha de passar a noite inteira miando
saudades, solidões, angústias e aflições. E também de azunhar meu corpo
pensando estar com alguém. E de vez em quando subo no telhado para gemer o
gemido alucinado dos desesperados.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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