*Rangel Alves da Costa
O mundo precisa de novas e boas notícias. As
pessoas necessitam de alvissareiras e esperançosas notícias. Os segundos, os
dias, o relógio do tempo, todos necessitam que surjam fatos e acontecimentos
que desencantem os desencantos da vida.
O que chega, contudo, são notícias
requentadas ou reconstruídas através dos horrores e dos medos cotidianos. As
máquinas tipográficas enferrujadas já não conseguem imprimir nada de alegre ou
dadivoso. Então tudo surge como jornais velhos respingando os sofrimentos.
Nada de novo debaixo do sol, assim diria o
profeta do Eclesiastes. Deveras lamentável, mas nada que seja novo e bom vai
surgindo debaixo do sol. Nos jornais, as antigas receitas de bolos deram lugar
às espantosas contundências de poderes nefastos e putrefatos, corrompidos e
corruptores.
Quando os primeiros literatos do romantismo
publicaram em jornais os seus folhetins, jamais imaginariam que suas tramas de
dores e amores fossem mais tarde dar lugar à extravasão dos sentidos. Ora,
impossível acreditar no que se lê a cada manhã. Aumento da violência, aumento
da criminalidade, estatísticas lastreadas no sangue e no grito.
O desalento é tamanho que ninguém parece mais
esperar uma notícia boa. Não que o povo esteja deitado pacificamente no leito
da conformidade, mas simplesmente pelo fato de também já estar cansado de
esperar que algo novo e bom aconteça. Mas o que acontece confirma sempre a
preexistência da angústia.
Foram-se os tempos de os carteiros chegarem
chamando pelo nome para entregar uma cartinha de amor. Já não se envia mais
cartões de felicitações nem de saudades rasgadas. A mocinha que agora fica ao
umbral da janela, entristecida se mostra por que sabe que não poderá ler mais
poesia nos horizontes nem enrubescer toda a pele com a passagem do príncipe
encantado.
Já disse Thomas More que "Os tempos
nunca são ruins demais para que não possa um homem bom viver neles". Será?
Creio haver um tempo onde distantes estarão as esperanças de tempos menos
ruins. E este tempo é o tempo presente, infelizmente. Em sã consciência, o que
dizer da esperança do amanhã se o homem de hoje, do agora, age intensamente
para torná-lo em infortúnio?
Contrariamente ao que se possa imaginar, o
dito não pode ser visto como mero exercício de pessimismo. Logicamente que tudo
agora se confirma segundo as velhas sentenças de Nietzsche Schopenhauer: ao
invés de buscar a felicidade, o homem vai traçando um caminho de dor e
sofrimento, como se seu alimento maior fosse a vontade de viver no padecimento.
Sim, o carteiro não chama mais o nome de
ninguém para entregar carta de amor. O jornal jogado na varanda já chega
gritando de dor. A cada manchete uma notícia velha. A cada página a repetição
das mesmas notícias de ontem, de ontem e de ontem. A diferença é que tudo num
crescente, tudo de forma a espantar mais ainda uma consciência já diluída pela
capacidade humana de agir para o mal, para o ilícito, para o pior que possa existir.
No idílio, na quimera poética, o sonho de
abrir a janela para a vida nova. Quem dera se cada amanhecer realmente
trouxesse o brilho da esperança. Contudo, além das flores do jardim, bem além
das folhas caídas ao anoitecer, muito além da fruta derramada ao chão, sempre
haverá um horizonte de homens agindo. Daí que toda a esperança do amanhecer
será logo transformada pela notícia velha que vai sendo reconstruída.
Ao ser humano, ou ao simples homem que se
tornou vitimado pelas nefastas ações do poder, dos partidos e dos políticos,
das espertezas e ilicitudes engravatadas, deveria, ao menos, ser-lhe garantido
o direito de viver o seu presente, o seu amanhecer e anoitecer sem ter o seu
dia entrecortado pela aflição. Ou viver seu presente pelo que de melhor a vida
possa lhe oferecer. Algo assim como o avistado na poesia “A Idade de Ser Feliz”,
de Geraldo Eustáquio de Souza:
“Existe somente uma idade para a gente ser
feliz
somente uma época na vida de cada pessoa
em que
é possível sonhar e fazer planos
e ter
energia bastante para realizá-los
a
despeito de todas as dificuldades e obstáculos
Uma só
idade para a gente se encantar com a vida
e
viver apaixonadamente
e
desfrutar tudo com toda intensidade
sem
medo nem culpa de sentir prazer
Fase
dourada em que a gente pode criar e recriar a vida
à
nossa própria imagem e semelhança
e
sorrir e cantar e brincar e dançar
e
vestir-se com todas as cores
e
entregar-se a todos os amores
experimentando a vida em todos os seus sabores
sem
preconceito ou pudor
Tempo
de entusiasmo e de coragem
em que
todo desafio é mais um convite à luta
que a
gente enfrenta com toda a disposição de tentar algo novo,
de
novo e de novo, e quantas vezes for preciso
Essa
idade, tão fugaz na vida da gente,
chama-se
presente,
e tem
apenas a duração do instante que passa ...
...
doce pássaro do aqui e agora
que
quando se dá por ele já partiu para nunca mais!”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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