*Rangel Alves da Costa
Jupira certa feita me revelou que depois de
fumar um baseado, o que mais gostava de fazer era ir namorar no cemitério.
Perguntei por que tinha essa tenebrosa opção e ela logo disse que sendo o sexo
coisa do outro mundo, nada melhor que namorar logo onde as coisas não são mais
deste mundo. Interessei-me pelo assunto e fui fazendo outras perguntas. Então
Jupira revelou que tanto ela como o seu ficante tinha de estar muito doidão
para pular aquele muro alto e depois procurar uma pedra de mármore aconchegante
para fazer safadezas. Do contrário, não tinham coragem de jeito nenhum. O bom,
segundo ela, é que ali ninguém chegava para importunar, para atrapalhar na hora
do bem-bom. Só que numa noite de amor algo muito estranho aconteceu. Estavam
nus se entregando um ao outro quando o seu ficante falou ao seu ouvido: “Gema
mais baixinho”. Então ela sussurrou surpreendida: “Mas ainda não tô gemendo
não”. “E que será, então?”. “Quem pode gemer assim num cemitério?”, fez ela
outra pergunta enquanto se danavam a correr e a cair por entre os jazigos. E
nunca mais fizeram o cemitério de motel.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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