SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 30 de setembro de 2017

Palavra Solta – namorando no cemitério


*Rangel Alves da Costa


Jupira certa feita me revelou que depois de fumar um baseado, o que mais gostava de fazer era ir namorar no cemitério. Perguntei por que tinha essa tenebrosa opção e ela logo disse que sendo o sexo coisa do outro mundo, nada melhor que namorar logo onde as coisas não são mais deste mundo. Interessei-me pelo assunto e fui fazendo outras perguntas. Então Jupira revelou que tanto ela como o seu ficante tinha de estar muito doidão para pular aquele muro alto e depois procurar uma pedra de mármore aconchegante para fazer safadezas. Do contrário, não tinham coragem de jeito nenhum. O bom, segundo ela, é que ali ninguém chegava para importunar, para atrapalhar na hora do bem-bom. Só que numa noite de amor algo muito estranho aconteceu. Estavam nus se entregando um ao outro quando o seu ficante falou ao seu ouvido: “Gema mais baixinho”. Então ela sussurrou surpreendida: “Mas ainda não tô gemendo não”. “E que será, então?”. “Quem pode gemer assim num cemitério?”, fez ela outra pergunta enquanto se danavam a correr e a cair por entre os jazigos. E nunca mais fizeram o cemitério de motel.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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