*Rangel Alves da Costa
Aos poucos vou descobrindo que o meu tempo
sempre escasseia diante do muito que quero fazer a cada instante. Os
compromissos assumidos nem sempre são cumpridos na sua integralidade, as coisas
mais amenas e prazerosas vão sendo sempre postergadas. Deixo para amanhã o
passeio pelo mato que já deveria ter feito, adio a visita tão
prometida à velha senhora. Sinto saudades daquilo que nunca mais convivi e das
pessoas e lugares que nunca mais visitei. As flores do mandacaru esperam que eu
chegue antes que elas percam seu viço ao amanhecer. As pedras do riachinho até
já estão raivosas de tanto me esperar. Os meus pés já não pisam o chão de minha
terra com a mesma constância de outros tempos. Sinto vontade de andar, de
caminhar, de passar horas no meio do mato e nas beiradas de estrada. Nem me
prometo mais caçar fruta do mato nem redescobrir os escondidos dos araçás
docinhos. Sempre vem um e toma o tempo marcado para viver outro instante,
sempre vem outro e me afasta do caminho onde eu já estava de caminhada. Sim,
tenho compromissos profissionais e não posso faltar. Mas também não posso me
afastar de vez dos compromissos que possuo com a própria vida. Preciso viver
mais, fazer do tempo um amigo e não uma bússola me dizendo onde eu tenha de ir.
Preciso fazer do precioso tempo um tempo mais de prazer e de ócio bom do que
apenas um tempo de relógio e de calendário.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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