*Rangel Alves da Costa
Até que eu acostumei a gostar do cantor Unha
Pintada. E por várias razões. Pelo fato de ser um verdadeiro xodó em Poço
Redondo, onde faz gente chorar, se embebedar e até delirar, mas principalmente
por ser um artista de raiz sergipana, de origem humilde, e que só depois de
muita luta vem conseguindo seu lugar ao sol musical. Contudo, desde alguns dias
que estou sendo forçando a odiá-lo, verdadeiramente enojá-lo. Sei que ele não
merecia isso, mas há que se compreender que ninguém suporta estar ouvindo, através
dos outros, Unha Pintada desde as oito da manhã às dez da noite. E a todo
instante, o dia inteiro, e as mesmas músicas. “É só você me chamar. É só você
me chamar. É só você me chamar...”. Sem parar. Quando para é para ecoar
“Desculpe amor, desculpa. Não foi minha culpa, simplesmente acabou uô uô. Eu
vou embora, vou, eu vou embora, a mala já está lá fora, o nosso amor já
acabou...”. E de novo, de novo, de novo. Por que assim ocorre? Ora, há um bar
bem na esquina do trecho onde fica localizado meu escritório. E tudo o que é
tocado por lá eu tenho de ouvir, queira ou não. E o que ouço o dia inteiro?
Unha Pintada, Unha Pintada e mais Unha Pintada. Dá tanta raiva que se possível
fosse arrancava de vez essa unha com esmalte e tudo. Mas não tem jeito, se
estou escrevendo ouço “É só você me chamar...”, se estou com cliente, então “a
mala já está lá fora, que vai embora, pois o amor já acabou”. E quando penso
que viajando ao sertão vou me livrar um pouco de tudo isso, eis que chegando a
Poço Redondo é pior. Em cada passo, em cada esquina, em cada casa, Unha
Pintada, Unha Pintada, Unha Pintada. Não tem outro cantor não, não tem outra
unha não, é só essa pintada?
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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