*Rangel Alves da Costa
“Cuidado menino. Se passar um vento mau
enquanto você estiver fazendo careta, com a língua de fora ou com a boca torta
por brincadeira, nunca mais vai se ajeitar. Vai ficar torto pra sempre”. Era costumeiro
ouvir coisas assim dos mais velhos. Conheci uma velha senhora que nunca tinha
ouvido falar em farmácia, sequer sabia o que era. Meninote, certa vez disse-lhe
que remédio bom era o de farmácia e o que ouvi de volta foi de jamais esquecer:
“Nunca que soubesse que vaca fazia remédio”. E ajuntou: “Mas quintal faz
remédio sim e dos bons. Mastruz, hortelã, erva-cidreira, macela, boldo, tudo o
que é folha e tudo o que raiz”. Mas gostava mesmo era de apontar um tamborete
no canto do quintal, perto do purrão, mandar sentar, e depois lançar mais de
ramos de mato e começar a me benzer de cima a baixo, principalmente cruzando a
cabeça e indo e voltando pelos ombros. Se os ramos não murchassem é que o mau
olhado não havia recaído por cima de mim. Do contrário, os ramos eram jogados
distantes, bem nas lonjuras do monturo, e depois ela se achegava já com a reza
na boca e um rosário entre os dedos. Agora segurando o rosário numa mão e na
outra os ramos, ia fazendo mil sinais da cruz em minha testa, murmurejando uma
infinidade de misteriosas palavras, e por fim, como se já estivesse muito
cansada, dizendo: “Cuidado, meu filho. Fechei a boca da noite pra escuridão não
entrar em você. Mas cuidado. O mundo é bom mas o mundo é ruim. Não saia na
porta com o pé esquerdo nem se alevante sem o sinal da cruz. Agora vá. Nunca se
esqueça que o mundo é bom mas o mundo é ruim. O bom mesmo era se existisse o
mundo sem a maldade em certas pessoas desse mundo”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário