*Rangel Alves da Costa
Não precisa represar a dor. Chore. Não
precisa aprisionar o sofrimento. Chore. Não precisa esconder a tristeza. Chore.
Não precisa fingir alegria e contentamento se o coração apertado é só
desalento. Chore. Não precisa cantar se a boca quer soluçar. Chore. Não precisa
mostrar ao próximo uma face radiante e feliz se dentro da alma há um abismo que
insiste em puxar a mão. Chore. Não precisa dizer que está tudo bem, que não há
nada a preocupar, que está no conforto da paz. Chore. Não precisa usar óculos
escuros para esconder o olhar que incessantemente lacrimeja. Chore. Não precisa
mostrar-se forte, indestrutível, inabalável, se o que lhe se sustenta é tão
frágil quanto uma linha prestes a se partir. Chore. Não precisa dizer que não
chora, mentir que não chora, fingir que não chora. Chore. Pessoas que sofrem
por dentro não querem chorar. Por quê? É preciso chorar. Pessoas com a alma de
luto não querem chorar. Por quê? Chore, é preciso chorar. Melhor chorar a ter o
íntimo encharcado de gritos e agonias pelo silêncio forjado. Melhor chorar a
ter a represa da alma de repente rompida e de dentro sair a própria vida. A
lágrima representa uma verdade do coração, ainda mais quando os motivos são tão
claros como o próprio sofrimento. Chore porque chegará um lenço. Com o lenço
uma mão amiga. Com a mão amiga a palavra, o afeto, o conforto. Tudo aquilo que
aplaca a lágrima e transforma o choro em compreensão do destino. Por isso
chore. Nunca deixe que sua lágrima permaneça guardada para chorar por si mesma.
Chore, sem vergonha e sem medo. Apenas chore. E chore toda a lágrima e todo o soluço que houver para chorar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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