*Rangel Alves da Costa
Meu amigo Lourenço me sai com cada uma! Não é
que outro dia, durante um proseado pra lá de produtivo e enriquecedor no
Memorial Alcino Alves Costa, em Poço Redondo, o jovem sociólogo (e de
inigualável inteligência), depois de dois copos de cerveja acabou lançando uma
importante tese comparativa?
A tese: A importância de Devinho Novaes e
Antônio Conselheiro para a história de Poço Redondo. E não apenas lançou a tese
como proporcionou toda a fundamentação. E neste passo, logicamente que eu
cuidei de colocar lenha na fogueira e acrescentei aos conceitos outros
fundamentos de validade.
De início, eu bem que imaginei que a tese
lançada pudesse envolver dois outros importantes personagens históricos da vida
de Poço Redondo: Unha Pintada e Lampião. Teria até coerência se assim acontecesse,
pois é do conhecimento de todos que igualmente a Lampião, o Unha Pintada
revirou de cabeça pra baixo todo o sertão. E se o bando de Virgulino tanto
atraiu a juventude poço-redondense para suas hostes, o mesmo aconteceu com o
tal “gostosinho”, outro nome que se dá o próprio Unha Pintada.
Mas a escolha de Lourenço recaiu mesmo sobre
Devinho Novaes e Antônio Conselheiro. E Devinho Novaes pelo fato de ser a nova
e arrebatadora onda que chegou para mistificar corações, exorcizar sentimentos,
pregar revoltas contra dores do amor, fanatizar multidões e até ser o guia de
enamorados e apaixonados. Sua força é tamanha que toda vez que ele diz “oi”,
uma multidão responde “oi”.
Sabido é que Antônio Conselheiro também
arrebatava multidões, fanatizava, atraía para si aqueles descontentes do mundo
na esperança da redenção através da fé. Quando o Conselheiro levantava seu
cajado e sua voz era igual a Devinho segurando o microfone e começando a
cantar: não havia e não há quem nem se transforme do cabelo ao pé. O Conselheiro
gritava: “Acendam as chamas e vamos enfrentar o Estado, que é nosso
inimigo...”, muito parecia com Devinho quando ecoa: “Apaga a luz e vem deitar,
desconta a raiva na minha boca. Você sabe no final das contas o resultado é
mais amor e menos roupa...”.
Mas nada disso ainda tem muito a ver com a
tese comparativa de Lourenço. Sua premissa inicial foi a seguinte: Se essa
juventude sempre encontra tempo para ouvir Devinho Novaes, para beber ouvindo
Devinho Novaes, para ir atrás de CD de Devinho Novaes, até para viajar para
shows de Devinho Novaes, então por que essa mesma juventude não reserva um
tempinho para conhecer os locais históricos de Poço Redondo, e que são muitos e
estão por todo lugar?
Foi na segunda premissa da tese que entrou
Antônio Conselheiro, e do seguinte modo: Ora, chega-se na beira do rio, em
Curralinho, e todo mundo está ouvindo, nos bares ou nos sons altos das malas
dos carros, o tal do Devinho Novaes. Contudo, poucos têm conhecimento que
aquela estrada de Curralinho foi aberta por Antônio Conselheiro e seus
seguidores e que a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, aquela primeira, no
alto e logo na chegada, foi erguida pelo Conselheiro e seu povo. Em Curralinho,
Devinho está por todo lugar. E o Conselheiro, apenas no esquecimento?
E a terceira premissa: Comparativamente, para
muitos e até pela falta de conhecimento, atualmente Devinho Novaes tem mais
importância histórica em Poço Redondo do que Antônio Conselheiro. Perguntem a
um jovem alguma coisa sobre os dois e logo se terá que do Conselheiro não sabe
nada não, mas que sobre Devinho sabe todas as músicas, até conhece tudo sobre
ele. Poucos sabem quem foi Antônio Conselheiro, qual a sua luta, como foi o seu
fim. Mas muitos dizem na hora tudo o que diga respeito ao cantor.
Logicamente que o presente texto é apenas uma
brincadeira, mas também servindo de alerta para o que hoje ocorre: o modismo
tomando lugar do verdadeiro saber, do conhecimento e do que realmente importa
ao ser humano. Como ocorreu com os Pablos, os Unhas e tantos outros tantos,
logo Devinho será substituído por outro. Mas quem irá substituir Lampião ou
Antônio Conselheiro?
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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