*Rangel Alves da Costa
A santificação nada mais é que o reconhecimento
da igreja pelas ações terrenas de mulheres e homens. Ninguém é santificado
apenas pela obtenção da pureza, mas exatamente pela força e sentido em que se
deu a separação entre o profano e o sagrado.
Ninguém já nasce santificado. Pode até nascer
já divinamente predestinado à santificação, mas passando pelos mesmos atributos
e forças existenciais do homem comum. O santo de agora foi um menino, foi uma
menina, teve percurso na vida.
O santo chorou enquanto criança. O santo
sentiu fome e sede. O santo correu descalço pelos descampados. O santo se fez
traquina, teimoso, difícil de lidar. O santo comeu barro da parede, atirou
pedra no gato, amarrou o rabo do cachorro. O santo foi pessoa comum.
O santo um dia se enamorou, beijou o lábio de
alguém, sentiu prazer, praticou sexo. Sim, pois o santo nunca esteve impedido
de fazer o que bem entendesse perante sua idade, propensão ou prazer. Até mesmo
errou, pecou, praticou o socialmente inaceitável. Ora, o santo foi gente como
gente comum.
Contudo, indaga-se: e quando o ser comum, a
pessoa qualquer, passa a ser santo? Não há um instante onde se possa dizer que
houve a separação entre o homem e o santo. Tudo nasce e envolve uma construção.
Exatamente quando o ser humano vai trilhando o caminho que Deus espera de
todos: ser sua imagem e semelhança.
Vai chegando um momento na vida em que a
estrada humana vai sendo trilhada de modo diferente do costumeiro. A pessoa
percebe que aquele seu passo não levará a lugar algum. Pensa e repensa suas
ações e, por fim, escolhe para si outro destino, ainda que seja incompreendida
ou afastado ou recusado pelos demais.
Quem sabe, talvez, se em certa altura da vida
a luz divina não lhe recaiu como um chamado? Talvez já estivesse mesmo
predestino a seguir outros passos, a fugir das impurezas e do profano, para
buscar a pureza e o sagrado. A verdade é que um novo rumo na vida vai tornar
aquela pessoa comum em um ser tomado de atributos sagrados.
Tomado de atributos sagrados, mas não de hora
para outra. Tantas vezes, após erros e mais erros, ou mesmo após o mundanismo
na vida, a pessoa vai sentindo a necessidade de tornar a feição de dor em face
de amor. E então, a partir da abnegação e da luta para sempre trilhar os
ensinamentos sagrados, a pessoa vai encontrando uma purificação da própria que
se eleva a cada gesto e a cada passo.
Também os sofrimentos, as torturas da alma,
os degredos do espírito, os exílios do ser, tudo será recompensado se as
tristezas passadas adiante não sirvam como vingança ou lição do mal pelo mal
sofrido. Significa dizer que mesmo a dor e o sofrimento, ao invés de endurecer
a alma e o coração, apenas preparam o ser para a benevolência.
Há, pois, um limite entre a estrada do homem
e a estrada santa. A estrada do homem comum e o caminho do bem, da abnegação,
da benevolência, do humanismo. Quem ultrapassou aquele primeiro caminho e no
novo passo sentiu a necessidade de servir ao bem e às boas causas, certamente
se aproximará da santificação.
Desse modo, os santos possuem suas histórias
marcadas pela abnegação e pelo amor aos ensinamentos cristãos. E por que tanto
amaram e obedeceram aos ensinamentos sagrados, e por que sofreram por manter
viva a chama da fé, mais tarde passam a ser reconhecidos como mártires da fé.
Algo faz lembrar aquele homem que abdicou de
toda riqueza e de toda mansidão da vida para cruzar caminhos em busca de fazer
o bem e ajudar o próximo. Ao invés de gritar para o próximo falava com os
bichos e os pássaros, ao invés dos mundanismos procurou viver o silêncio e a
brandura dos justos de alma e coração. E foi santificado.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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