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terça-feira, 17 de julho de 2018

PADRE AGOSTINHO, CAPELÃO DO CARIRI CANGAÇO



*Rangel Alves da Costa


Agora em junho Poço Redondo e os sertões sergipanos e baianos tiveram o imenso prazer de conhecer Padre Agostinho. Mas quem é este homem calmo, pacífico, de voz mansa, que anda sempre carregando lembrancinhas religiosas para distribuir onde passa, que lentamente caminha para suportar uma pequena deficiência numa das pernas, que celebra missa aonde chega e anda de chapéu cangaceiro de canto a outro?
Saibam, pois, que o Padre Agostinho Justino dos Santos é gigante, é grandioso, é imenso. Entronizado Capelão do Cariri Cangaço, Capelão aposentado da Marinha do Brasil, é Padre Católico e do mundo. Apaixonado pelo Nordeste, principalmente pela região do Cariri, abdica de estar no seu Rio de Janeira para cruzar caminhos nordestinos e sertanejos.
Desde muito que atua fortemente no contexto histórico nordestino. Apaixonado pela história do Padre Cícero e pelas dioceses do Crato e de Juazeiro, transita entre as duas - e por toda a região - como um sacerdote respeitado e venerado. É, pois, a partir da Diocese de Juazeiro que o Padre Agostinho sai pelos carrascais nordestinos acompanhando o Cariri Cangaço. Não perde um evento sequer. A cada nova edição, mesmo na distância que for lá estará o Padre Agostinho acompanhado de um ajudante, também da diocese.
A presença deste servo de Deus também a serviço da história, da cultura e das tradições, tornou-se fator marcante a cada evento do Cariri Cangaço. Alguns conselheiros deixam de comparecer, mas Padre Agostinho não. Uns e outros apaixonados pelas andanças do Cariri Cangaço até deixam de estar presente, mas Padre Agostinho não. Chega sem alarde, instala-se quase ocultamente, mas depois vai surgindo para o encantamento de todos.
Em meios aos abraços pelos reencontros, em meio aos preparativos e correrias, de repente ele vai surgindo lentamente, calmo, paciente demais. “Oh Padre Agostinho, por aqui? Que bom revê-lo!”. E ele, sempre de sorriso leve, vai logo repassando um terço de boa sorte, uma fitinha do Padre Cícero, um calendário religioso, algo sempre valioso como dádiva sagrada de reencontro e recordação.
Na manhã do último dia do Cariri Cangaço Poço Redondo 2018, quando todos os participantes ou já tinham seguido ou estavam se preparando para seguir viagem, eis que o Capelão celebrava - ao lado do Padre Mário - a missa pelo aniversário de 78 anos de Alcino Alves Costa. Segundo ele, depois seguiria para Paulo Afonso, daí cortando outros caminhos até Juazeiro. Confessou-me que pagaria do próprio bolso o fretamento de um veículo até Paulo Afonso.
Todas as igrejas abrem suas portas perante sua chegada. Todos os túmulos e cruzes da história se reconfortam perante sua presença. Ao ser perguntado sobre os motivos de usar chapéu cangaceiro e de abençoar os retalhos do passado, bem como celebrar a memória daqueles que a muitos causa ojeriza (como acontece com túmulos de cangaceiros), ele simplesmente afirma que todos foram seres humanos e, como tal, merecem a compaixão divina. Assim suas palavras, conforme citadas pelo conselheiro Raul Meneleu no artigo “O Padre e o Cangaço”: “Também os cangaceiros são filhos de Deus e merecem preces por suas aflitas almas, mesmo sendo injustos." (http://meneleu.blogspot.com/2015/08/o-padre-e-o-cangaco.html).
Foi neste sentido que abençoou as Cruzes dos Nazarenos na Maranduba e proferiu palavras acerca daquelas almas aflitas, comandando depois uma oração conjunta. No dia anterior, na baiana Serra Negra, após o almoço coletivo ele foi avistado recompensando com algum dinheiro as mulheres a serviço na cozinha. Apenas um reconhecimento pelo maravilhoso almoço, dizia ele.
Pois bem. É assim o Padre Agostinho aonde chega e por onde passa. Convidado pelo Padre Mário para celebrar missa em Poço Redondo durante a próxima Festa de Agosto, do altar improvisado defronte ao Memorial Alcino Alves Costa, sorridente disse: “Estarei entre vocês, com fé em Deus!”. Seja bem-vindo, Padre Agostinho. Sempre. Em Poço Redondo e por todo o Nordeste, como assim será no Cariri Cangaço de São José de Belmonte.
E, desde já, rogo ao curador Manoel Severo e a todos os conselheiros Cariri Cangaço que além de Capelão o Padre Agostinho seja oficialmente reconhecido como Sacro Conselheiro do Cariri Cangaço.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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