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terça-feira, 31 de julho de 2018

Palavra Solta - a lenda da moça nua



*Rangel Alves da Costa


Era uma vez... Assim sempre começavam a contar a história da moça nua. Então vamos a ela. Era uma vez uma moça que sempre aparecia nua, completamente nua, e somente perante os homens. Onde houvesse mulher ela não aparecia de jeito nenhum. Ninguém sabe o motivo. Inexplicável também que ela já tivesse aparecido perante algumas ditas mulheres. Assim já aconteceu com Tonha Três-oitão, Maria Pezão e Carmosa Barbuda. Segundo Bastião Taquara, essas três eram mais homens do que muitos machos. Mas deixe isso pra lá. A verdade é que depois da boca da noite, assim que a lua começava a andejar, ela aparecia num canto e noutro. O homem sozinho e do nada aparecia aquele vulto que depois se transformava na mais bela das mulheres. E nua, completamente nua. Antes disso, contudo, o homem sempre sentia alguma coisa diferente acontecendo. Sentia um calor subindo, um despertar prazeroso inexplicável, uma vontade danada de mulher. Era sinal que ela ia chegando. Os mais velhos diziam que aquela história só podia ser de alma penada. Tia Cocota dizia que não passava de um algum fantasma de quenga nova que voltava para atiçar a safadeza dos machos. Já a Velha Totonha dizia que não era alma penada de jeito nenhum, mas alguma safada que não tinha o que fazer e tirava toda a roupa pra ir atrás de homem. E ajuntava: “Veja se ela aparece pra homem com mulher de lado e essa com um cabo de vassoura na mão?”. Sabendo dessa história, um dia Porcina se vestiu de homem, procurou um lugar solitário onde ela pudesse aparecer, e então se pôs a assobiar com um cigarro à mão. De repente sentiu alguma estranha se aproximando, se aproximando e se aproximando mais. E um calor lhe subia, um comichão lhe tomava, uma coisa estranha demais lhe acontecendo. E aquela vontade danada de ser possuída. Mas não pode, pensou ela. Não pode por que a tal moça nua não pode provocar em mim essa vontade toda de fazer safadeza. Então se virou. E quando se virou avistou um negrão de mais de dois metros de altura e completamente nu. Quase gritou pelo restante que avistou. Mas calou e disse: “Ainda bem que não veio com a moça nua!”.


Escritor
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