*Rangel Alves da Costa
O guarda-roupa está bagunçado. Os livros
estão desordenados na estante. Os sapatos espalham-se por todo lugar. Os
escritos, folhas e anotações, estão dispersos. A cama desforrada, lençóis
embrulhados em si mesmos, poeira se espalhando, o pó dando a feição das coisas.
Não, não há como dizer que isto é da normalidade da vida. Alguma coisa está
errada e precisa ser consertada. Quem gosta de sair pelas ruas com os cabelos
desgrenhados, com um chinelo de um tipo num pé e diferente no outro pé, com os
botões fechados fora do lugar, com uma veste de frente pra trás? Certamente
ninguém gosta, pois não da normalidade. Do mesmo modo os objetos de uso
pessoal, as roupas de quarto, os livros, as bijuterias, os enfeites e adornos,
tudo gosta de estar arrumadinho e no seu devido lugar. Contudo, fato mais
importante é reconhecer que quando as coisas vivem desordenadas, desarrumadas,
ao deus dará, também a vida estará assim. O cuidado com os pequenos objetos, com
as pequenas coisas, reflete muito bem o estado pessoal, o ânimo, a espiritualidade.
Quem está bem de corpo e alma não aceita descuido. Quem está feliz consigo
mesmo tende a zelar e a preservar-se ainda mais. E não há que dizer que as
aparências enganam. Estas até que podem iludir os olhares, mas não ao que se
tem como mais importante: a própria pessoa. Daí que é preciso organizar a vida
a partir das pequenas coisas. Quem zela pela vida e pelo que tem tanto quer o
melhor para si como procura preservar com carinho aquilo que possui, ainda que
seja uma diminuta lembrança. Nada melhor do que a pessoa poder avistar aquilo
que sabe onde deixou. Nada melhor do que a pessoa poder avistar-se e dizer que
sabe onde está e o que quer na vida.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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