*Rangel Alves da Costa
Pouca
gente de Poço Redondo ainda sabe da Rua dos Vaqueiros e muito menos de sua
importância no contexto histórico da cidade. Infelizmente não é um fato
isolado. Sim, quase todos sabem onde fica o Alto de Tindinha, o Alto de João
Paulo e o Poço de Cima. Mas de sua história, sua importância, a motivação para
os nomes, o significado na história do município? E o Tanque Velho, o Gado
Manso, o Campo do Luizão?
Certamente
que muitos dirão que os mais jovens não têm obrigação alguma de conhecer.
Certamente alguns dirão que o passado deve ser enterrado com o seguinte
epitáfio: O que passou não interessa! Ledo engano. Desde os sobrenomes
familiares, num percurso desde avôs, bisavôs, tataravôs, tudo é importante se
conhecer. Basta uma olhada para as primeiras raízes dos Sousa, dos Feitosa, dos
Lucas, dos Sá, dos Cardoso, por exemplo, para se ter um livro aberto sobre a
história de Poço Redondo.
Alguém já
procurou saber o porquê de a Rua de Baixo ficar numa parte alta da cidade e a
Rua de Cima ficar na parte mais baixa? Coisa sem importância, alguns dirão. Mas
não é assim não. Quem não conhece sua história familiar nem as raízes e fatos
peculiares de seu berço de nascimento é um verdadeiro apátrida de si mesmo e de
sua terra.
Algum
jovem estudante dirá que o nome Riacho Jacaré vem do fato de aquele riozinho
que corta a cidade ter sido, no passado, lugar de muitos jacarés de beira
d’água. O que o professor dirá, confirmará ou não? Ou vai contar outra
história? Difícil que o próprio educador se saia bem pelo fato do desconhecimento
histórico. Não todos, mas grande parte dos professores de Poço Redondo sequer
sabe o porquê de “Poço Redondo”.
Tô
inventando não. Conheço o interesse pela história de Poço Redondo como a palma
da mão. Mas uma só mão, pois a outra ainda é carente de muita sabedoria e
conhecimento. Alegro-me quando ouço novos causos sobre João da Bicha, sobre
Julinho do Cassimicoco, sobre Tonho Bioto, sobre Tonho Doido, sobre Nalvinha,
sobre Expedido, Manezinho Tem-Tem, sobre Seu João Fotógrafo, sobre Zé Goiti, Zé
Aleixo, Dudu Ribeiro, Agenor da Barra, sobre João de Virgílio, sobre Maninho e
Zé de Bela. Sobre Zé de Julião, então. Será que vale a pena se debruçar sobre a
história grandiosa e espetacular de Dionízio Cruz?
Gente, as
molduras e os retalhos do passado, as relembranças de pessoas de Poço Redondo
ou que marcaram presença no seu cotidiano, é o que nos tornam conhecedores e
mais aproximados com toda a sua existência. Pois bem, voltando à Rua dos
Vaqueiros, então pergunto: o que você sabe sobre a Rua dos Vaqueiros e o porquê
desse nome? Atualmente, quem andar pela Avenida Alcino Alves Costa estará
caminhando sobre a Rua dos Vaqueiros, a mesma que também é chamada de Rua de
Baixo e já foi Avenida 31 de Março e Avenida Poço Redondo.
Sim, todos
estes nomes para uma só avenida. E Rua dos Vaqueiros pelo fato de ser naquele
local que moravam alguns dos mais importantes vaqueiros de Poço Redondo, ou
residiam, conviviam ou possuíam famílias ali. Vaqueiros da estirpe de Mané
Cante, de Tião de Sinhá, de Abdias, de Bastão Joaquim, dentro tantos outros.
Nas suas calçadas cotidianamente estavam Humberto Braz, João Paulo, Chico de
Celina e muito mais. Localidade de moradia de Ulisses, de Neguinho, de Messias
de Zé Vicente, de Liberato, de Ireno Cirilo, de Né Cirilo, de Manezinho de Céu.
Por ali
também a vaqueirama que retornava das lidas ao entardecer e iam molhar a goela
com casca de pau. Os Vito só viviam por ali, até mesmo Alzira que quando
amanhecia com o lenço virado na cabeça também experimentava uma quixabeira. Galego
do Alto, o ferreiro maior, descia de seu mundo e só retornava já calibrado de
casca de pau. Rua também dos aboios, das toadas, dos causos e proseados sobre a
rotina sertaneja. Alcino e Dona Peta também já moraram ali. Eu já morei ali.
Hoje é Rua
dos Vaqueiros apenas na memória, mas tudo bem. Também na memória aqueles
vaqueiros que tanto orgulho ainda nos lega. Na mesma Rua dos Vaqueiros onde
antigamente as sertanejas passavam com potes e latas na cabeça em direção ao
tanque. Hoje está muito diferente. Quase tudo comércio. Apenas Dona Marietinha
ainda sentadinha na sua calçada para avistar saudosamente o passado.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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