*Rangel Alves da Costa
Bastiana e
Cirineu tiveram uma filharada. Cada menino e menina cresceram debaixo da saia
da mãe.
Casa
pequena, pobre, mas dava demais pra se viver. Tudo crescido barrigudinho.
Joquinha era o que mais gostava do barro da parede.
Tiziu se
metia a matar calango e só se via o bicho chiando no braseiro. Mariazinha
chorou três dias quando sua boneca de milho perdeu os cabelos e ficou só no
sabugo.
A mãe
queria comprar uma de pano, mas num tinha dinheiro não. O dinheiro que aparecia
era só para o “de comer”, como se dizia.
Quando a
seca grande chegou, já rapazinho, Tiziu foi o primeiro a subir no pau de arara,
caminhão velho que deixava pra trás os adeuses e as lágrimas.
Pedrinho
se enrabichou logo cedo e foi morar com Minervina. Moça bonita, morena
trigueira, laçou o rapazinho e esse seguiu seus passos.
Mariazinha
deixou sua janela e seus olhos tristonhos quando o vaqueiro Berôncio lhe
prometeu o céu e a terra. Casou e foi morar distante.
Os demais
filhos foram tendo ou criando motivos para se despedirem da velha casa. Um a
um, todos acabaram deixando para trás aquela casa que era tão imensa.
Ora, a
casa é imensa não pelo tamanho, mas pela família existente dentro dela. Quanto
mais afeto mais se dimensiona os laços e a existência.
Seus pais,
sempre entristecidos a cada partida, apenas sofriam sem poder fazer nada.
Choravam nos escondidos as saudades tantas.
E a casa,
que era tão pequena e tão imensa pela família debaixo do mesmo teto, aos poucos
foi ficando vazia demais. Tão grande e de repente um quase nada.
Era como
se nada mais houvesse ali dentro que encantasse a vida. Bastiana ia prantear
suas dores no quintal. Soluçava baixinho, limpava os olhos nos lenços
encharcados da dor.
Cirineu se
bandeava para um tronco na malhada e ali deixava a lágrima escorrer. E ali, no
meio tempo, apenas um homem entristecido e sem poder domar as saudades tantas.
E a casa
vazia, triste, saudosa, apenas nas relembranças de tantas vidas ali. Cirineu já
ia confessar a esposa que não suportava mais de tanta saudade, quando uma dor
no peito lhe calou para sempre.
Bastiana
ficou sozinha. Apenas uma velha no silêncio eterno e na solidão mais dolorosa.
Estendia roupa do falecido no varal e depois abraçava com uma ternura de cortar
coração.
Quando o
vento batia e as mangas da camisa esvoaçavam, então ela dizia: “Já vou!”. E
foi. Sentada numa cadeira rente à janela, com os olhos sempre marejados,
falando sozinha, chamando pelos seus, de repente a morte fechou-lhe os olhos.
Então veio
a ventania, entrou pela porta da frente e seguiu até o varal. Mistérios da vida
e da morte, mas a camisa estendida foi depois encontrada como que abraçada a
Bastiana.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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