*Rangel Alves da Costa
Do alto, no rente ao céu no rente ao chão,
após as portas que se abrem na igreja bela, avista-se todo o sagrado azul e
todo o leito manso, encontra-se todo o verde e o marrom da terra, em caminhos,
ribeiras e curvas, que vão pedir a benção a um Velho Chico. Descendo as serras,
correndo nas águas mansas, nos caminhos das calçadas altas, o homem-peixe, o
homem-rio, o homem-lenda, o homem-carranca, o homem-canoa, o homem curraleiro e
seu mundo santo. Santo, Santo Francisco, um Velho Chico, um manto que ali se estende
e faz o olhar ficar maravilhado com a flor da vida. Sertanejo, ribeiro,
ribeiro, ribeirinho, curraleiro, curralinho! Olha a curva do rio e ainda ouve o
vapor que vem trazendo o mundo e vai levando vidas. A carranca amedrontando os
augúrios das águas e abrindo passagem às ribeiras e portos. João de Virgílio
levanta nas costas um saco de açúcar. Valter toca sua sanfona ao pé do
tamarineiro. Dona Salvelina abençoa a todos. Ciano ajeita o chapéu e sacode o
sinuca. Seu Neguinho ajeita na prateleira o Vinho de Jurubeba. Chico Bilato tem
biscoito e goiaba para vender baratinho. E as cadeiras se estendem nas calçadas
ao entardecer, e os ribeirinhos descem para sentir as águas, enquanto o sol
poente se esconde entre as serras. Os bilros cantam, as rendas dançam, os
bordados se tornam em flores do campo. De repente um bradar de sino vindo lá do
alto, daquela igrejinha que emoldura a vida. Na sua calçada, em pé, bem alto,
magro, de roupão azulado tomado de poeira e pó, um homem barbudo e esguio, um
homem parecendo ser do outro mundo, de olhar profundo e meditativo. É o
Conselheiro, que levanta seu cajado e diz: Não serás mais Curral de homens
desgarrados da fé. Serás Curralinho de homens abraçados a Deus! E desta igreja,
que de Nossa Senhora da Conceição será, todo olhar que adiante mirar logo o São
Francisco avistará!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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