*Rangel Alves da Costa
Sou sertão, acima de tudo sertão. Sou o caçuá
e a cabaça, sou a enxada e a foice, sou o velame e a macambira, pois sou
sertão. Na sua criação, Deus reservou ao homem um mundo tão próprio de se viver
que quanto mais o forasteiro renega mais o sertanejo abraça. Sou deste sertão.
E sou o casebre e a tapera, sou a vaqueirama e o gado, sou a catingueira e o
bonome, pois sou sertão. Não há riqueza nem desvalia, mas apenas um viver na
medida da existência e tudo acrescido à força de um povo sempre lutador. Sou este
sertão, sou deste sertão. Sou a moringa e o pote, sou o alguidar e o purrão,
sou o mastruz e o croá, sou tudo que no existe. De terra molhada ou
esturricada, de fontes transbordantes ou na lama, do jeito que esteja, neste
sertão estarei feito pedra de estrada e calango destemido. Sou sertão, e acima
de tudo sertão. Sou o café peneirado, sou o cuscuz ralado, sou o feijão batido,
sou o graveto e o feixe de lenha, pois todo o sertão eu sou. Sou a vereda e a
estradinha, sou a panela de cozinha, sou o resto de toco e o tufo de mato. Sou
o fruto do quintal, sou a roupa do varal, sou a renda e o bordado, sou o
candeeiro e a vela da fé. Padim Ciço eu sou, Frei Damião também sou, e por que
não o Capitão Lampião? Pois sou. A lua e o sol também sou.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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