SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 15 de julho de 2018

Palavra Solta - canto de amor ao sertão



*Rangel Alves da Costa


Sou sertão, acima de tudo sertão. Sou o caçuá e a cabaça, sou a enxada e a foice, sou o velame e a macambira, pois sou sertão. Na sua criação, Deus reservou ao homem um mundo tão próprio de se viver que quanto mais o forasteiro renega mais o sertanejo abraça. Sou deste sertão. E sou o casebre e a tapera, sou a vaqueirama e o gado, sou a catingueira e o bonome, pois sou sertão. Não há riqueza nem desvalia, mas apenas um viver na medida da existência e tudo acrescido à força de um povo sempre lutador. Sou este sertão, sou deste sertão. Sou a moringa e o pote, sou o alguidar e o purrão, sou o mastruz e o croá, sou tudo que no existe. De terra molhada ou esturricada, de fontes transbordantes ou na lama, do jeito que esteja, neste sertão estarei feito pedra de estrada e calango destemido. Sou sertão, e acima de tudo sertão. Sou o café peneirado, sou o cuscuz ralado, sou o feijão batido, sou o graveto e o feixe de lenha, pois todo o sertão eu sou. Sou a vereda e a estradinha, sou a panela de cozinha, sou o resto de toco e o tufo de mato. Sou o fruto do quintal, sou a roupa do varal, sou a renda e o bordado, sou o candeeiro e a vela da fé. Padim Ciço eu sou, Frei Damião também sou, e por que não o Capitão Lampião? Pois sou. A lua e o sol também sou.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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