A CAPELA, A IGREJA E A CATEDRAL
Rangel Alves da Costa*
Como tenho afirmado sempre, minha religião está na minha imensa e incontida fé em Deus e a minha única e verdadeira igreja está no templo do coração onde cultuo esse meu Deus. Portanto, não sou seguidor formal de nenhuma religião terrena, não frequento templos para expressar minha fé, nem comungo dos fervorosos apelos religiosos que tanto se vê por aí.
Todos os dias visito o meu oratório, acendo minha vela, faço minhas orações, avisto e releio sempre o meu salmo preferido na bíblia aberta num pequeno pedestal, faço voar pelos ares cinzas de incensos, dialogo com os santos, renovo o convite para os anjos passearem comigo. E agradeço profundamente ao meu Deus por aquele dia e imploro proteção nos passos que se seguirão.
Assim, é solitariamente que expresso minha fé. Repito, Deus sintetiza toda minha religião e minha fé e o único templo de oração a que me permito é na igreja do meu coração. Contudo, isto não significa que eu viva alheio aos templos católicos e não sinta atração pelos lugares de culto ao catolicismo que encontro pelos meus caminhos.
Pelo contrário, sou atraído por cada badalar dos sinos, pela arquitetura sacra, por cada fachada, pelas imagens representativamente vivas, confessionários, naves, vitrais, os santos e os anjos que comungam invisivelmente daquele cotidiano. E o meu Deus que existe ali, que também está ali, que reencontro sempre por ali e em todo lugar...
Mas quando chego à porta e adentro em qualquer templo católico, possa ter a máxima certeza que ali não estarão multidões, não há padre rezando missa, não há nenhum ofício sendo praticado. Gosto da igreja dos dias comuns, da igreja quase sem fiéis, da igreja solitária, da igreja apenas com um ou outro fazendo o mesmo que fui fazer ali, da igreja silenciosa, ampla, aberta, iluminada, com a paz reinando por todos os lugares.
Gosto de frequentar a igreja para ficar admirado com a sua história; para voltar no tempo e procurar entender como a idéia de religião foi construída com tanto sacrifício, fé e sangue derramado; para encontrar fundamentos da bíblia; para me extasiar com a cultura e a arte na forma como o templo foi construído, os detalhes nas pinturas, murais e vitrais, nos detalhes das imagens sacras, nos tetos que parecem céus, na singeleza que deve ser a do céu; para viver momentos de paz, de meditação, de orações e indagações.
Gosto de frequentar a igreja para segredar os segredos da minha fé; para conversar silenciosamente com os meus amigos, protetores e guias; para orar baixinho por mim e por todas as pessoas que gosto muito; para pedir paz eterna para os que já foram atender o chamado divino; para que a luz para fazer o bem esteja sempre iluminando os meus caminhos. E gosto de chorar na igreja, gosto de sorrir, me encantar, viajar, voar, viver uma imensa e grandiosa paz que me faz distante de qualquer situação ou preocupação terrena.
E faço isso geralmente em três lugares diferentes, todos próximos de onde moro e que, por coincidência, são hierarquias diferentes de templos católicos, pois faço isso na igreja de minha rua, que é a Capela de São João Batista, na igreja do centro da cidade, que é a Igreja de São Salvador, e noutra imensa igreja que também fica numa das praças do centro de Aracaju, que é a Catedral Metropolitana.
São todas próximas, a capela, a igreja e a catedral. Todas estão próximas de mim. Caminho poucos passos e sento na simplicidade e paz absoluta da capelinha da minha rua; caminho outros passos, em direção ao centro, e me vejo na histórica (foi a primeira construída na capital sergipana) e também singela Igreja de São Salvador, tradicional e bela em pleno comércio; e faço o mesmo para ir até à Catedral Metropolitana, templo maior do catolicismo sergipano, com sua riqueza e suntuosidade.
Contudo, seja na capela, na igreja ou na catedral, sempre encontro o mesmo Deus da minha fé, pois ele não é aquele que está lá, mas sim o que vive e anda comigo.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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