MENINA, ABRA A JANELA E VÁ AVOAR!!!
Rangel Alves da Costa*
Basta o pensamento do voo e a gente já sai avoando, dizia uma conhecida.
Até achava esquisito quando ela dizia "avoar" e não voar, como normalmente se fala e escreve. Mas depois descobri que ela tinha razão, pois avoando se voa muito mais longe do que simplesmente voando.
Simplesmente voando a pessoa depende de uma série de coisas para estar pelos ares, tais como asas, mesmo que as do pensamento; força para fazer as asas baterem e o pensamento voar; e um destino certo onde se quer alcançar no voo.
Avoar não, é muito melhor, é muito mais bonito, é muito mais significativo e profundo. Para avoar a pessoa não precisa de nada, não precisa ter asas nem levantar voo no pensamento. Para avoar basta imaginar o silêncio, o que quer, e pronto.
E sabe-se quando já está avoando quando as pessoas ao redor não existem, quando tanto faz essa bagunça do mundo, quando não se enxerga mais nada à frente, quando faz de conta que tudo morreu e tudo acabou, e só existe o mundo do voo do avoante.
Avoar é como se tivesse sumido desse mundo vão, partido sem compromisso de volta, simplesmente sumir porque não vale a pena ficar aqui. O único compromisso é conosco mesmo e com os nossos objetivos. Ora, o mundo ingrato que se exploda!
Ademais, voando corre-se o risco de cair, de ser abatido, de despencar pela maldade dos outros, de ser impedido de ter a liberdade que quiser por aí, pelos ares, pelas distâncias dos horizontes.
Avoando não, pois o avoador está no chão e em todo lugar ao mesmo tempo. O único risco que corre é não querer deixar de avoar e os outros acharem que se tornou abobalhado ou lerdo. Sem falar que ninguém pode ver o outro voejando pelo mundo que imagina e já fica falando besteira.
Continuo dando razão à conhecida e hoje tenho certeza que avoar é muito melhor do que voar. E tanto é assim que tenho que dizer àquela menina que fica ao entardecer na janela que ela está perdendo o seu tempo voando nos pensamentos.
Nem de longe sei o que ela fica imaginando, pensando, sonhando, viajando todas as tardes naquela janela, assim que se arruma todinha, fica linda igual a ela mesma e cheirando igual à flor mais cheirosa de qualquer estação. Não sei. Só sei que ela fica voando.
E sei que ela fica voando porque vejo o seu olhar distante, sinto seus sonhos e esperanças pegando carona nas nuvens, imagino que dali sai correndo em busca das realizações da idade.
Sem falar no príncipe encantado que vem no vento em cima de um cavalo branco; na palavra que ouve ele falar, no olhar que lhe entontece, no beijo que lhe fará princesa. E depois viverão felizes para sempre... E a menina fica voando, voando, até que chega o anoitecer e nada acontece.
Se ao invés disso ela ficasse avoando tudo seria diferente, mais verdadeiro e realizável. Avoando ela não ficaria entristecida mais tarde, não choraria trancada dentro do quarto, não viveria se achando a pessoa mais triste, mais feia e mais injustiçada do mundo. E tudo porque os voos do entardecer não produziam resultado algum.
Mas vou escrever um bilhetinho pra ela e vou dizer como se faz para avoar na janela e conseguir tudo que não conseguiu voando. O bilhetinho vai ser simples e vai dizer somente isto:
"Tente enxergar quem te ama e deixe de viver voando atrás do impossível. Príncipes de cavalo branco não existem, mas eu sim".
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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