Rangel Alves da
Costa*
Geralmente
lembrado por causa das constantes e devastadoras estiagens que assolam seus
quadrantes, e vez por outra por algum fato sensacionalista que reabre os olhos
da mídia, o município de Poço Redondo agora volta a pontuar com assiduidade nos
noticiários. E o motivo é mais que alvissareiro: é um dos locais que disputa a
indicação para receber o polo sertanejo da Universidade Federal de Sergipe.
Localizado
no centro do Alto Sertão Sergipano do São Francisco, o município é de suma
importância histórica e geográfica. A história do cangaço tem em Poço Redondo
um de seus cenários mais importantes. Foi nas suas terras, na Gruta do Angico
nas beiradas do Velho Chico, que a 28 de julho a volante comandada por João
Bezerra pôs fim à saga cangaceira, com a chacina que vitimou Lampião, Maria
Bonita e mais nove cangaceiros.
É também
reconhecido pelo grande número de filhos seus que enveredaram para o mundo do
cangaço, com cerca de trinta rapazes e mocinhas. Possui a maior área extensão
territorial de Sergipe e está situado na divisa de Alagoas e Bahia. Nas suas
terras está assentado o maior número de famílias oriundas das ações do MST e da
reforma agrária. É detentor de uma bacia leiteira das maiores do estado e
também possuidor de dois povoados - Santa Rosa do Ermírio e Sítios Novos - que
desde muito apresentam os requisitos essenciais para a emancipação.
O fato de
as administrações municipais jamais considerarem sua riqueza histórica como
fator de desenvolvimento, através de políticas competentes de atratividade
turística, merece uma análise mais aprofundada em outra oportunidade. Contudo,
antecipe-se que sua história e sua cultura são muito mais valorizadas
externamente do que nos seus próprios limites, perante a população. Por isso
mesmo que de vez em quando um cineasta chega por lá para resgatar
acontecimentos históricos que até mesmo a maioria do povo desconhece.
Não
obstante a falta de valorização interna, que sempre é justificada pela gestão
municipal a partir de problemas relacionados com a pobreza, as constantes
estiagens e a permanente escassez de recursos, a verdade é que a população de Poço
Redondo parece ter acordado em defesa de suas potencialidades e oportunidades.
A grande
perspectiva de ser escolhido como sede da UFS/Sertão trouxe ânimo diferenciado
aos seus habitantes e conseguiu arregimentar o apoio da população sertaneja
circunvizinha. Neste primoroso despertar talvez estejam a carência e o abandono
como aspectos cruciais motivadores. Ora, cansada de tanto esperar por melhorias
e oportunidades para uma vida com mais dignidade, a população passou a ver a
implantação da universidade como verdadeira pedra de salvação. É agora ou
nunca. Eis a verdade.
E nesta
verdade também a realidade. Possuem razão aqueles que defendem a escolha de
Poço Redondo como chance única para romper de vez o ciclo de miséria, de
baixíssimos índices de qualidade de vida, altos índices de analfabetismo, de
falta de perspectivas sociais e econômicas e abandono pelos poderes públicos,
que nos seus limites se alastram secularmente.
Quer
dizer, não há oportunidade governamental maior de efetivamente apoiar o
desenvolvimento de Poço Redondo do que agora. Diante da escolha que deverá ser
feita, se torna até lógica desenvolvimentista que a escolhida seja aquela
localidade onde, a um só tempo, a implantação da universidade traga consigo o
desenvolvimento e a própria administração municipal trabalhe para efetivamente
mostrar que também oferece adequada estrutura.
Como já
afirmei noutros escritos, apenas o fato de receber a universidade já deverá
fazer com que a administração municipal chame para si a responsabilidade de
mostrar que também está trabalhando para melhorar a infraestrutura municipal e
a qualidade de vida da população. Ou faz isto ou o centro de ensino permanecerá
rodeado por um município em total abandono, entregue à própria sorte dos tempos
e regredindo cada vez mais, como vem ocorrendo nos últimos vinte anos. E
certamente não é papel da universidade administrar o município para
transformá-lo.
Mesmo com
todos os descalabros administrativos existentes, são realmente grandes as
chances de Poço Redondo ser o escolhido. Fator de suma importância são os
apoios que vem recebendo nos últimos dias de autoridades de diversas vertentes.
E todos naquela perspectiva da necessidade não só de dar oportunidades de
desenvolvimento, mas, e principalmente, de retirar o município do estado de
degradação em que se encontra.
Nasci na
aridez de suas terras e sei muito bem o quanto aquele povo merece viver além da
mera esperança por dias melhores. Haverá um tempo de reconhecimento, de
valorização, de alcance da maioridade do progresso. Eclesiastes não mente: há
um tempo para tudo. E chegou o seu tempo de conquistar, Poço Redondo!
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Caro Doutor Rangel: O meu bom-dia.
Embora eu não conheça a Cidade que por três vezes foi administrada pelo saudoso Mestre ALCINO, mas, fiquei entusiasmado com a perspectiva da presença de uma Universidade para aquela região, tendo como ponto central POÇO REDONDO. Falo assim porque, nossa SERRINHA teve um grande avanço após a chegada dessa Instituição de ensino. Parabéns às autoridades sergipanas e ao povo da querida Poço Redondo por uma iniciativa tão importante, especialmente para a juventude de toda a região do Sertão Sergipano, e quiçá, para municípios dos dois Estados vizinhos.
Abraços,
Antonio Oliveira - Serrinha-Ba. Email: antonioj.oliveira@yahoo.com.br
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