*Rangel Alves da Costa
João ama Maria. João não tinha anel dourado e
deu a Maria uma concha de mar. Maria passou a amar João mais ainda. Maria
retribui o amor com o que de mais verdadeiro pode oferecer: carinho e
fidelidade. Tião caiu do cavalo e mal consegue levantar da cama. E assim ano após
ano. Mas Ceição jamais o abandonou. Sofre a sua dor, lamenta o seu sofrimento,
compartilha a angústia e toda alegria. E assim por Ceição ama Tião, e Tião sabe
bem disso. Até mesmo, certa feita, mesmo com lágrimas nos olhos, disse a Ceição
que ela era ainda muito nova para continuar apenas cuidando de um doente. Mas
ela, também chorosa e tomada de emoção, apenas acariciou Tião e disse: até o
fim Tião, ficarei ao teu lado até o fim de nossas vidas. Ingrácia ainda hoje
pranteia seu falecido esposo. Já passados mais de dez anos de sua partida,
ainda assim ela age como se ele jamais tivesse se despedido. Seu travesseiro na
cama está sempre limpo, seu retrato logo ao lado, uma saudade sem fim. E chora,
chora muito, e não somente de saudade, mas por um amor ainda preservado e que
já não pode ser compartilhado lado a lado.
Susana soube ser fiel em meio às tentações.
Pedro, desempregado, deixou a noiva Susana compromissada e seguiu para o sul do
país. Na despedida, jurou que dali a seis ou sete meses estaria de volta, e já
para o casamento tão desejado. Enviava cartas saudosas, com promessas de logo
voltar, mas já passado quase um ano e nada de retornar. Susana, moça das mais
belas do lugar, vivia rodeada de pretendentes, de rapazes enviando presentes e
tentadoras promessas. Mas nunca aceitou sequer uma palavra. Resoluta em
esperá-lo fosse a qualquer tempo, começou a bordar uma toalha de mesa. Lágrimas
e mais lágrimas caíam sobre os panos, em dolorosos presságios pelo que de pior
pudesse acontecer. Então chegou uma carta dizendo da morte de seu amado. A
partir de então se sentiu viúva sem jamais ter casado. E fez a si mesmo o mais
difícil juramento: jamais aceitar outro homem em sua vida. E assim permaneceu o
resto de seus dias, bordando e bordando, num silêncio sepulcral, mas com olhos
que não cessavam de respingar a mais dolorosa das aflições: a saudade.
Pedrinho amava Teresa, um amor de criança,
daqueles que é somente doçura e encanto. Envergonhado, Pedrinho piscava o olho,
soprava beijo com a mão, deixava maçã do amor na janela. Teresa não respondia
que sim nem que não, mas intimamente estava completamente apaixonada. Um dia
retribuiu um olhar com sorriso e foi a coisa mais linda do mundo. No outro dia,
Pedrinho escondeu um bilhete no caderno dela: “Posso dar um beijo? Se aceitar,
então você amasse e jogue o bilhete pela janela”. De repente, e o bilhete foi
jogado com toda força. Ele quase desmaiou. Mas a verdadeira vertigem veio
quanto tocou levemente seu lábio no lábio de Teresa. Subiu à nuvem, alcançou o
céu, quando desceu já estava namorando. E que coisa fantástica e inesquecível é
um amor assim, quando o amor surge na pureza da alma e do coração. Já com
Joelina foi um pouco diferente, pois mesmo querendo namorar Tonico, sempre
postergava uma resposta. E mais, exigia a flor mais bela a cada manhã. E o
coitado do Tonico todo dia pulava o jardim alheio para roubar uma rosa.
Ora, quem há de dizer que o doido não ama a
lua? Ama sim, e muito. Nutre por ela verdadeira paixão, sobre à pedra grande
para beijar sua boca, faz de uma pedra um buquê de flor e arremessa ao alto. E
quer voar para abraçar o seu corpo, para sentir sua luz, para tocar sua pele. E
passa horas e mais horas mirando sua feição, admirando sua beleza, querendo que
ela desça até os seus braços. E ela desce, em forma de luz e de lua mesmo. Por
isso que ele tanto chora quando ela vai embora. Por isso que ele enlouquece
ainda mais quando, em noite chuvosa, sua eterna paixão simplesmente some. E
quem já ouviu, no meio da noite, um terrível lamento de dolorosa paixão,
ecoando pelos espaços como gemido mortal, conhece bem o quanto dói um
impossível amor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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