*Rangel Alves da Costa
Tudo por dinheiro. O que seria apenas o nome
de um quadro de programa dominical se torna numa incontestável verdade que
abrange todas as esferas do mundo e da existência humana. Desde os tempos idos
que aquilo surgido no intuito de facilitar as trocas e as aquisições se
transformou em algo de ambição tamanha que até o inimaginável ao homem passou a
ser feito em seu nome.
Com pleno acerto, a Bíblia se refere ao
dinheiro como o mal do mundo. Ele é a raiz de todo o mal, assim confirmado:
Porque o amor ao dinheiro é a raiz de
toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se
traspassaram a si mesmos com muitas dores (1Timóteo 6:10). Ademais, segundo o
Eclesiastes, quem amar o dinheiro jamais dele se fartará (5:10). Como castigo
divino, a cobiça se torna tamanha que não há outro viver senão pelo dinheiro,
que sempre falta pela ganância.
Com efeito, quem faz da moeda um objetivo de
vida em outra coisa não pensa senão em ter mais, jamais se contentando com o
conseguido. E tudo faz para somar, utilizando-se para tal os mais abomináveis
artifícios. Surgem as espertezas, os engodos, as enganações. Surgem os
assaltos, os roubos, as corrupções, as lavagens, as improbidades e usurpações.
Surgem as negociatas, os acordos sujos, os compromissos escusos. Surgem as
ganâncias, as ambições e cobiças. Além disso, sempre surge a negação do próprio
ser em nome do vil metal.
Os males do mundo se perfazem e se alastram
através do dinheiro porque a moeda sempre traz consigo o poder de tudo
transformar. As virtudes se apequenam ante um punhado de dobrões, a honradez se
submete diante do brilho de tostões, a dignidade se acovarda perante o vil
metal. Todo o escudo humano parece se curvar perante a lança fria, impiedosa e
mortal do dinheiro. Ele prostitui o mundo antes mesmo que haja a paga. E o
pagamento, ao invés de moeda, se deita às mãos como chaga incurável.
É verdadeiramente histórica a escravização de
tudo e de todos pelo dinheiro. O homem de outros tempos ou de qualquer tempo
não se arrisca tanto a não ser pensando em lucro, em obter vantagem de tudo
aquilo que possa lançar o olhar e a mão. Os antigos navegantes não se
arriscavam pelos mares tenebrosos se não tivessem à mente a possibilidade de
saque das riquezas das terras desconhecidas. Os mercadores não cruzavam
perigosos desertos se não fosse a intenção de ludibriar rudes cidadãos com seus
objetos de falso reluzir.
Roma foi o império que mais tributou os povos
antes mesmo de estes serem conquistados. Exigia-se paga para não atacar e mais
ainda quando dominava e submetia. Não há reino que tenha sobrevivido sem impor
sacrifícios ao povo carente. Tributo de paz e tributo de guerra, de manutenção
do poder e defesa da população. Na colheita, uma parte para o Estado. Tudo
transformado em dinheiro. E sempre para enriquecer cada vez mais uma burguesia
preguiçosa e corrompida.
Nos tempos idos, até mesmo membros da Igreja
se deixavam arder no fogo do pecado pela venda de indulgências. Pelo afã do
dinheiro - e sempre por muita moeda -, de repente um religioso estava ofertando
um lugar no paraíso, reservando um local de primeira classe no reino pós-morte.
Ou mesmo um salvo conduto, de modo que o pecador não corresse o perigo de ser
coercitivamente levado à porta dos condenados. Se até a igreja agiu assim, que
se imagine o que é capaz de fazer o homem comum pela moeda.
A verdade é que muita gente não se contenta
em ter o dinheiro suficiente para cumprir com suas obrigações. Sempre quer
mais, pois não lhe parece razoável apenas o conforto na sobrevivência, quer
também o luxo. Não lhe parece suficiente um salário bom, quer muito mais para
refletir um padrão de vida bem acima do que possui. E ao querer mais já tendo
muito, sempre incorre no risco da cegueira moral, ética, profissional,
funcional ou simplesmente pessoal. Daí um passo à ilicitude, à falcatrua, ao
desvio, ao roubo. Daí também essa corrupção desenfreada que assola o país e
onde sempre surge um novo lamaçal.
Pelo dinheiro se faz tudo. Pelo vil metal as
honras são varridas, os nomes são destruídos, o viver se torna em interminável
ficha criminal. E um fato interessante acontece. Quanto maior o cargo, a
função, o poder e a atribuição, maior a incidência de crimes praticados
envolvendo dinheiro. Não roubo ou furto de pouca coisa, pois isso é conduta de
comuns. Mas a fome e a sede avassaladora perante os cofres públicos ou através
do uso de agentes estatais no saciamento de suas sem-vergonhices.
Há de reconhecer-se, por fim, que o dinheiro
se corrompe por quantia bem abaixo do seu real valor. E quando, às escondidas,
é passado de mão em mão, então sua desvalorização passa a ser total. Este
também o valor de quem assim age.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Olá, Rangel. Acho que preciso discordar aqui... o dinheiro não é o mal, embora o uso que se faz dele possa trazer tanto o bem quanto o mal. A internet não é o mal, mas quem a usa pode fazê-lo bem ou mal. Assim como os carros, as roupas, os livros, e até mesmo, a palavra.
O mal é o homem.
O bem é o homem.
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