SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 12 de setembro de 2016

PELO VIL METAL (OU O DINHEIRO COMO MAL DO MUNDO)


*Rangel Alves da Costa


Tudo por dinheiro. O que seria apenas o nome de um quadro de programa dominical se torna numa incontestável verdade que abrange todas as esferas do mundo e da existência humana. Desde os tempos idos que aquilo surgido no intuito de facilitar as trocas e as aquisições se transformou em algo de ambição tamanha que até o inimaginável ao homem passou a ser feito em seu nome.
Com pleno acerto, a Bíblia se refere ao dinheiro como o mal do mundo. Ele é a raiz de todo o mal, assim confirmado: Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores (1Timóteo 6:10). Ademais, segundo o Eclesiastes, quem amar o dinheiro jamais dele se fartará (5:10). Como castigo divino, a cobiça se torna tamanha que não há outro viver senão pelo dinheiro, que sempre falta pela ganância.
Com efeito, quem faz da moeda um objetivo de vida em outra coisa não pensa senão em ter mais, jamais se contentando com o conseguido. E tudo faz para somar, utilizando-se para tal os mais abomináveis artifícios. Surgem as espertezas, os engodos, as enganações. Surgem os assaltos, os roubos, as corrupções, as lavagens, as improbidades e usurpações. Surgem as negociatas, os acordos sujos, os compromissos escusos. Surgem as ganâncias, as ambições e cobiças. Além disso, sempre surge a negação do próprio ser em nome do vil metal.
Os males do mundo se perfazem e se alastram através do dinheiro porque a moeda sempre traz consigo o poder de tudo transformar. As virtudes se apequenam ante um punhado de dobrões, a honradez se submete diante do brilho de tostões, a dignidade se acovarda perante o vil metal. Todo o escudo humano parece se curvar perante a lança fria, impiedosa e mortal do dinheiro. Ele prostitui o mundo antes mesmo que haja a paga. E o pagamento, ao invés de moeda, se deita às mãos como chaga incurável.
É verdadeiramente histórica a escravização de tudo e de todos pelo dinheiro. O homem de outros tempos ou de qualquer tempo não se arrisca tanto a não ser pensando em lucro, em obter vantagem de tudo aquilo que possa lançar o olhar e a mão. Os antigos navegantes não se arriscavam pelos mares tenebrosos se não tivessem à mente a possibilidade de saque das riquezas das terras desconhecidas. Os mercadores não cruzavam perigosos desertos se não fosse a intenção de ludibriar rudes cidadãos com seus objetos de falso reluzir.
Roma foi o império que mais tributou os povos antes mesmo de estes serem conquistados. Exigia-se paga para não atacar e mais ainda quando dominava e submetia. Não há reino que tenha sobrevivido sem impor sacrifícios ao povo carente. Tributo de paz e tributo de guerra, de manutenção do poder e defesa da população. Na colheita, uma parte para o Estado. Tudo transformado em dinheiro. E sempre para enriquecer cada vez mais uma burguesia preguiçosa e corrompida.
Nos tempos idos, até mesmo membros da Igreja se deixavam arder no fogo do pecado pela venda de indulgências. Pelo afã do dinheiro - e sempre por muita moeda -, de repente um religioso estava ofertando um lugar no paraíso, reservando um local de primeira classe no reino pós-morte. Ou mesmo um salvo conduto, de modo que o pecador não corresse o perigo de ser coercitivamente levado à porta dos condenados. Se até a igreja agiu assim, que se imagine o que é capaz de fazer o homem comum pela moeda.
A verdade é que muita gente não se contenta em ter o dinheiro suficiente para cumprir com suas obrigações. Sempre quer mais, pois não lhe parece razoável apenas o conforto na sobrevivência, quer também o luxo. Não lhe parece suficiente um salário bom, quer muito mais para refletir um padrão de vida bem acima do que possui. E ao querer mais já tendo muito, sempre incorre no risco da cegueira moral, ética, profissional, funcional ou simplesmente pessoal. Daí um passo à ilicitude, à falcatrua, ao desvio, ao roubo. Daí também essa corrupção desenfreada que assola o país e onde sempre surge um novo lamaçal.
Pelo dinheiro se faz tudo. Pelo vil metal as honras são varridas, os nomes são destruídos, o viver se torna em interminável ficha criminal. E um fato interessante acontece. Quanto maior o cargo, a função, o poder e a atribuição, maior a incidência de crimes praticados envolvendo dinheiro. Não roubo ou furto de pouca coisa, pois isso é conduta de comuns. Mas a fome e a sede avassaladora perante os cofres públicos ou através do uso de agentes estatais no saciamento de suas sem-vergonhices.
Há de reconhecer-se, por fim, que o dinheiro se corrompe por quantia bem abaixo do seu real valor. E quando, às escondidas, é passado de mão em mão, então sua desvalorização passa a ser total. Este também o valor de quem assim age.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Ana Bailune disse...

Olá, Rangel. Acho que preciso discordar aqui... o dinheiro não é o mal, embora o uso que se faz dele possa trazer tanto o bem quanto o mal. A internet não é o mal, mas quem a usa pode fazê-lo bem ou mal. Assim como os carros, as roupas, os livros, e até mesmo, a palavra.
O mal é o homem.

O bem é o homem.