*Rangel Alves da
Costa
Conheço
uma menina que já está moça feita e nunca avistou a lua. Conheço uma moça feita
que ainda é menina e que nunca viu o sol brilhando. Conheço uma menina-moça,
tão encantadora como a própria natureza jamais avistada por ela, que tem o
sonho maior de um dia amanhecer e abrir a janela para avistar os horizontes e
além. Essa moça e menina que conheço se chama Anne Caroline Santana Guimarães,
ou simplesmente a doce e meiga Carol.
Carol
Guimarães é filha do radialista Barroso Guimarães, e com o pai é sempre
avistada sorridente pelas ruas da cidade. Também radialista, palestrante e
entusiasta da vida, Carol dialoga com todo mundo que a reconhece como se
estivesse perante uma grande amizade. De belas palavras e sorriso bonito, estão
nos seus olhos, contudo, uma triste realidade que a torna em superação por
outras formas de ser. Verdadeiramente um contrastante que um grave problema de
visão a predisponha tanto a viver, a sorrir, a ter esperanças. Mas assim ela
age precisamente porque a qualquer momento pode tirar os óculos escuros e
avistar todas as formas e cores da vida.
E foi
também sobre a lua o meu último diálogo com Carol. Pelo centro da cidade, eis
que avisto Barroso Guimarães e sua filha, passando de braços dados, como sempre
caminham. Cumprimentei o radialista já conhecido de outros idos, e saudei com
especial reverência a bela Carol. Nos caminhos das palavras, principalmente
acerca da esperança em resolver aquele problema com a mais moderna técnica de
tratamento no Hospital de Olhos da Universidade de Miami (Bascom Palmer Eye
Institute), nos Estados Unidos, também os relatos acerca das dificuldades
financeiras para tão custoso tratamento. E principalmente a falta de apoio dos
órgãos públicos e governamentais.
Quando,
num gesto carinhoso, perguntei-lhe como será avistar a lua após a eficácia do
tratamento, ela esboçou um sorriso e disse que, na sua esperança, nunca deixou
de avistá-la com todo o brilho que ouve dizer que tem. Uma coisa tão bela que
somente presenciando para descrever, mas que já a tem no olhar porque jamais
abdicou da certeza de que seus olhos alcançarão a luz sobre todas as coisas.
Quando Deus disse faça-se a luz, não estava esquecido dos olhos dos cegos.
Aquele que se eterniza na cegueira possui uma luz interior muito mais
fulgurante que os demais, e aqueles que, com o tempo, enfim conhecem a luz do
mundo, passam a avistar a vida não pelo olhar, mas pelo coração.
Carol quer
avistar a lua, a luz do mundo e da vida. Avistar a lua e sua luz possui um
significado especial a muitos. Perante as realidades assustadoras e as
dolorosas paisagens cotidianas, os pequenos instantâneos que surgem ao olhar se
afeiçoam a um conforto necessário à alma, ao espírito, à existência. Daí a
importância da lua fulgurando na noite, do sol se pondo com seus matizes
afogueados, do céu estrelado, de uma janela aberta para os sinais do alvorecer.
Tais cenários, por serem inversos aos duros retratos do dia a dia, sempre
comovem e encantam, sempre sensibilizam e inspiram. Mas tem gente que enxerga e
não quer avistar, enquanto tantos outros olhares sonham em um dia poder avistar
uma lua, uma estrela, uma flor.
Carol,
além das cores da vida, também deseja muito poder avistar sua face no espelho. Então me vem à memória a história de um menino
cego que, para espanto da mãe, de repente dela se aproximou e perguntou quais
as cores do arco-íris. Cego de nascença, sem jamais avistar qualquer luz senão
a escuridão, a mãe ficou instigada em saber por que o menino queria saber as
cores do arco-íris. Vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta,
respondeu ela. Então o filho perguntou: E a cor que eu enxergo é vermelho,
laranja, amarelo, verde, azul, anil ou violeta? Ou será que a cor que enxergo
não está no arco-íris? Coitada da mãe. Já propensa a chorar, esforçava-se ao
máximo para que o filho não sentisse seu estado de aflição. Mas respondeu: Sim,
meu filho, todas as cores possuem essa mesma cor que você enxerga. Tenha
certeza que o arco-íris que eu avisto possui as mesmas cores que aparecem
diante de seus olhos, porque o arco-íris não é o que a gente enxerga, mas o que
a gente sente. Então o filho disse, por fim: E o meu é tão bonito que até
quando fecho os olhos ele aparece com as mesmas cores.
Apenas uma
história. Mas a história de Carol é tão real quanto os seus olhos sem luz.
Então ajudem Carol a avistar sua lua. Deposite sua ajuda para o tratamento:
Caixa Econômica Federal, Conta 170543-1, Agência 1733, Operação 013. Banese,
Conta Corrente 8522-7, Agência 055, Conta tipo 01. Banco do Brasil, Conta
Poupança 121916, Agência 27294, Variação 51.
Por
enquanto, digo-te apenas, Carol: a lua é linda!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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