*Rangel Alves da Costa
Nada mais triste que um varal. Mesmo sem
roupa estendida, sempre demonstra uma feição de tristeza, solidão, desolação. É
que o olho esquece que ali só um cordame, um arame ou um barbante esticado, e
logo imagina a roupa estendida, molhada ou esvoaçando ao vento. E logo imagina
muito além de uma simples estendida para secar. Mas por que assim? Ora, roupas
no varal são como pessoas querendo voar, querendo fugir, partir sem destino. As
roupas no varal são como recordações das vestes de outras pessoas que ali
também estendiam suas vestes. As roupas no varal são como saudades, angústias,
aflições, tormentos. As roupas no varal são como braços estendidos pedindo
abraços. São como pessoas partidas que acenam adeuses através dos panos. São
imagens vivas de outras vidas. E quando as roupas estão secas e começam a
esvoaçar, então surge o medo de que seus donos também estejam indo embora. E
para o sempre. Mais triste ainda quando a noite chega e as roupas permanecem
estendidas. Amanhecem molhadas porque passam a noite chorando.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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