SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Palavra Solta - varal


*Rangel Alves da Costa


Nada mais triste que um varal. Mesmo sem roupa estendida, sempre demonstra uma feição de tristeza, solidão, desolação. É que o olho esquece que ali só um cordame, um arame ou um barbante esticado, e logo imagina a roupa estendida, molhada ou esvoaçando ao vento. E logo imagina muito além de uma simples estendida para secar. Mas por que assim? Ora, roupas no varal são como pessoas querendo voar, querendo fugir, partir sem destino. As roupas no varal são como recordações das vestes de outras pessoas que ali também estendiam suas vestes. As roupas no varal são como saudades, angústias, aflições, tormentos. As roupas no varal são como braços estendidos pedindo abraços. São como pessoas partidas que acenam adeuses através dos panos. São imagens vivas de outras vidas. E quando as roupas estão secas e começam a esvoaçar, então surge o medo de que seus donos também estejam indo embora. E para o sempre. Mais triste ainda quando a noite chega e as roupas permanecem estendidas. Amanhecem molhadas porque passam a noite chorando.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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